
Produtor rural relembra a infância e o esporte em Ibirubá, narra os desafios da migração e celebra a prosperidade no centro do país.
As estradas que cortam o Brasil rumo ao Norte guardam histórias de coragem e reinvenção. São caminhos que, muitas vezes, começam em pequenas cidades do Sul e desembocam em fronteiras abertas pelo trabalho e pela esperança. Assim foi com Hélio Schwantes, que trocou o gramado dos campeonatos amadores de Ibirubá pelas vastas lavouras de soja em Sorriso (MT), onde vive há quase quatro décadas.
Ainda jovem, Hélio fez fama como centroavante no futebol local, jogando pelo Grêmio e pelo Juventude, além de participar de memoráveis campeonatos regionais. “Ganhei meu primeiro par de chuteiras fazendo o gol da vitória num Gre-Ju juvenil”, recorda, com o mesmo entusiasmo que dedicou à lida no campo.
O impulso para deixar Ibirubá surgiu da busca por novas oportunidades. A família Schwantes, composta por 13 irmãos, via na expansão agrícola do Norte uma chance de crescimento. Em 1989, após anos de idas e vindas para explorar a região, Hélio fixou residência definitiva em Sorriso, cidade que mais tarde se tornaria referência nacional na produção de grãos.
A transição de Ibirubá para o Mato Grosso não foi apenas uma mudança de endereço, mas uma verdadeira ruptura com a vida até então conhecida. Acostumados à infraestrutura, às comodidades da cidade e ao convívio próximo com familiares, Hélio e os irmãos encararam o desafio de abrir áreas de mata fechada, praticamente sem energia elétrica e com recursos escassos. A decisão de migrar foi motivada não apenas pela possibilidade de adquirir terras mais baratas, mas também pela perspectiva de garantir um futuro digno para as novas gerações da família.
Ao chegar a Sorriso, os primeiros anos foram marcados por improvisos e muito esforço físico. O transporte era precário, as casas precisaram ser construídas com as próprias mãos e, para garantir energia, criaram uma turbina comunitária movida pela força das águas de um córrego. “Lá era tudo no braço e na coragem”, resume Hélio, que, mesmo diante das dificuldades, nunca pensou em desistir. A cada safra bem-sucedida, o sentimento de vitória se renovava, transformando aquele cenário inóspito em um símbolo de superação e prosperidade.
A adaptação não foi simples. “Quando chegamos, não havia infraestrutura, a energia vinha de motores e precisávamos improvisar até uma turbina comunitária para ter luz”, relembra. O desafio maior foi transformar o cerrado em campo produtivo, tarefa vencida com persistência, técnica e muito suor.
Hoje, com a família estabelecida e os filhos dando continuidade ao legado, Hélio olha para trás sem arrependimentos. “Sabíamos que seria difícil, mas tínhamos ambição e força para superar”, afirma, ao destacar também as diferenças entre Sorriso e sua cidade natal. “Ibirubá cresceu muito, modernizou, mas Sorriso explodiu com o agronegócio, tem emprego, infraestrutura e oportunidades para quem não tem medo de trabalhar.”
Mesmo integrado à dinâmica mato-grossense, Hélio mantém vivos os laços com a terra onde nasceu e volta com frequência para rever familiares e amigos. “É sempre bom matar a saudade, voltar às origens e lembrar do tempo em que tudo começou no futebol e na roça.”
A entrevista completa com Hélio Schwantes está disponível no canal do YouTube do Jornal O Alto Jacuí.