31 de Outubro, 2025 09h10mEntrevistas por ANDREI GRAVE

Adoção, fé e amor instantâneo: a história do casal de Ibirubá que esperou quatro anos por um “sim” do destino

Cris e Katia viveram a angústia da espera, o medo da demora e a surpresa de receber dois bebês de uma só vez.

A história do jornalista Cristiano Lopes do Nascimento e da esposa Kátia Medeiros Lopes, que receberam os gêmeos Daniel e Samuel, ilumina os desafios e a transformação de quem se abre para a fila de espera.

A jornada da adoção raramente é uma linha reta. É um caminho pavimentado por burocracia, ansiedade e, por fim, uma profunda transformação. A história recente do jornalista Cristiano Lopes e de Kátia Medeiros Lopes, de Ibirubá, que em 2024 acolheram os gêmeos Daniel e Samuel, ilumina os contornos dessa trajetória.
O coração da espera, o fator que define o tempo na fila — que para o casal Lopes durou cerca de quatro anos desde a habilitação em 2020 —, é o "perfil" da criança desejada.
De acordo com Cristiano Lopes, editor do jornal O Alto Jacui, perfis restritivos são o maior entrave. "Se tu for lá, ah, 'eu quero uma menina branca de olho azul, de no máximo 4 meses', é claro que vai demorar muito mais", afirmou durante participação no Momento Estrela Guia, apresentado às segundas-feiras (12h30) por Nilve Maldaner Mendes.
A realidade dos abrigos é outra. "A grande maioria dessas crianças é, normalmente, parda, negra, de condição social mais complexa", explicou Lopes. A consequência é que crianças que passam dos quatro anos de idade dificilmente conseguem ser adotadas.
Foi uma mudança nesse perfil que reescreveu a história do casal. Kátia Lopes relata que a angústia da espera a fez repensar. "A demora, ela é doída", disse. "Daí eu decidi que poderia ser menino ou menina. Coloquei que poderia ser menina ou menino e irmãos, que daí foi que pareceu mais rápido".
Do silêncio à urgência
Ao contrário dos nove meses de uma gestação biológica, a adoção não tem data marcada. A espera de quatro anos do casal foi rompida pelo telefone.

A notícia de que seus filhos haviam sido encontrados veio em uma sexta-feira de março de 2024. A determinação era para que buscassem as crianças na segunda-feira seguinte. A assistente social, ele conta, foi direta: "Só que são gêmeos". Os meninos, nascidos em julho de 2023, estavam então com oito meses.
O impacto logístico de receber duas crianças em 72 horas é imediato, e neste ponto o casal enfatiza um pilar fundamental da adoção: a rede de apoio. Cristiano afirmou que, sem o suporte de amigos e familiares no entorno, eles não teriam conseguido. "Não vá sozinho nessa empreitada. Converse com o pai, com a mãe, amigos, porque vai se tornar muito mais fácil".
Quebrando mitos
Parte da missão do casal ao compartilhar sua história é desmistificar barreiras que desencorajam pretendentes à adoção. A primeira é a financeira.
"Não coloque como empecilho: 'Ah, eu não vou ter condição'. Tu dá jeito", afirmou Cristiano. "A gente só queria ser pai e mãe. Então não espera tu estar preparado para dar esse passo".
O segundo receio comum é o jurídico: a possibilidade de a família biológica "reaver a criança". Lopes foi enfático: "A adoção feita por meios legais é irrevogável. Aquilo que é feito dentro da lei, como é o nosso caso, não vai ter erro".
A transformação
O processo, embora árduo, é descrito pelo casal como profundamente regenerador. Para Kátia, a maternidade teve um efeito curativo em sua saúde mental. "Eu era depressiva antes deles. Hoje só penso neles. Melhorei quase 70%", revelou. "A maternidade salva de todas as formas possíveis".
O vínculo, segundo eles, não depende de laços biológicos. "O amor foi instantâneo", definiu Cristiano. "Para a gente que é espiritualista, que acredita em vidas passadas, a gente acha que dessa vez eles só erraram o endereço, porque eles sempre foram nossos".
 

Adoção em Números

Os dados mais recentes do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), gerenciado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), revelam o principal desafio da adoção no Brasil: a disparidade entre o perfil das crianças aptas e o perfil desejado pelos pretendentes.

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Embora o número de famílias habilitadas (cerca de 33 mil) seja maior que o de crianças disponíveis (cerca de 3.900), a espera se prolonga.

O Perfil de Quem Espera (Crianças Aptas)

  • Idade: Mais de 70% têm mais de 6 anos.
  • Cor/Raça: Quase 60% são pardas ou negras.
  • Irmãos: Cerca de 23% possuem irmãos (a lei prioriza a adoção conjunta).
  • Saúde: Aproximadamente 25% possuem alguma condição de saúde ou deficiência.

O Perfil de Quem Procura (Pretendentes Habilitados)

  • Idade: Cerca de 80% desejam adotar crianças de 0 a 5 anos.
  • Cor/Raça: Cerca de 65% buscam crianças brancas.
  • Irmãos: Mais de 85% aceitam apenas filhos únicos.
  • Saúde: A quase totalidade busca crianças sem histórico de problemas de saúde.

Fonte: Painel de Estatísticas do SNA/CNJ (Outubro de 2024).

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