
Referência no esporte local, Márcia Couto foi a primeira mulher entrevistada no quadro "Baú do Esporte", onde compartilhou memórias do futsal feminino em Ibirubá, a importância da liderança, os desafios enfrentados e a paixão que ainda a move.
A história de Márcia Couto com o esporte não começou em um clube, e sim dentro de casa. No bairro Progresso, ela cresceu cercada por bola, chuteiras e redes. A mãe, Maria Juraci Alves da Silva Couto, o pai, os irmãos — todos jogavam futebol. E ela, desde muito nova, aprendeu que o esporte era mais do que lazer — era identidade.
“Eu sou do meio de três irmãos. Minha mãe jogava, meu pai também. Meus irmãos, Jardel e Tuci, sempre jogaram. A gente vivia isso em casa, e não tinha como não se apaixonar pelo esporte”, relembra.
Aos 13 anos, vestiu pela primeira vez a camisa do São José, time da vila, onde iniciou sua trajetória no futsal feminino. “Lembro dos campeonatos municipais, do ginasião cheio, da comunidade toda torcendo. Era uma fase em que o futsal feminino tinha muita força em Ibirubá. A mulherada fazia acontecer”, conta.
O nome Márcia Couto logo se destacou. Técnica, inteligente e disciplinada, ela chamou atenção não apenas pela habilidade, mas pela postura em quadra. “Tive professores no colégio que acreditaram em mim. O Heitor, a Profe Sirlei, a Andreia. Eles viram algo ali e me incentivaram.”
Além dos títulos com o São José, Márcia também protagonizou rivalidades históricas. “Tinha aquela coisa das irmãs Couto contra as irmãs Padilha. Quando surgiu a Metalúrgica Dellay, foi uma época marcante. Mas sempre com respeito.”
Em 2009, iniciou uma nova etapa na Nutri Vital. Mudou de posição em quadra, passando a jogar como fixa, e logo virou capitã. “Sempre tive essa liderança natural. A Cleonice Guedes viu isso e me deu a faixa. Era uma honra, mas também um desafio. Capitã precisa ouvir, cobrar, organizar. Tínhamos jogadoras adolescentes e outras mais experientes. Eu precisava estar atenta ao momento de cada uma.”
Sob sua liderança, a Nutri Vital viveu anos vitoriosos. Foram títulos municipais, regionais e torneios importantes. Um dos momentos mais marcantes foi a final contra o Fenerbach, de Quinze de Novembro. “O ginásio inteiro torcendo contra nós. Foi um jogo duríssimo. Fiz o gol da vitória. Aquilo ficou para sempre.”
Mas o que mais tocou Márcia, em toda a carreira, não foi um gol decisivo — foi um momento familiar e histórico. Em Quinze de Novembro, num jogo oficial pela Nutri Vital, teve a chance de dividir a quadra com a filha, Isadora. “Faltavam segundos para acabar o jogo. A Isa entrou e fez um gol. As gurias foram me abraçar, e não ela. Eu chorei e ri ao mesmo tempo. Poder viver isso com a minha filha foi indescritível.”
Isadora também deu seu depoimento. “Tudo que sei de futsal veio dela. No treino, em casa, nos conselhos. Ela era minha mãe, minha técnica e minha capitã. Cobrou mais de mim do que das outras. Mas hoje eu entendo: ela estava me preparando.”
Além de mãe, Márcia também é avó da pequena Valentina — e faz questão de dizer isso com orgulho. “Minha vida é o esporte, mas minha base é a família. Sempre levei meus filhos para os treinos, e a Cléo brincava que ouvia o barulho das crianças e já sabia que eu estava chegando.”
Nem tudo foi alegria. Em 2017, durante um torneio em Carazinho, rompeu parcialmente o ligamento do joelho. Sem fazer cirurgia, encarou um longo período de fisioterapia. “Foi duro. Meu corpo não respondia como antes. Mas segui tentando. Voltei em 2020, joguei um campeonato em Colorado, mas com a pandemia e problemas de saúde, me afastei.”
Márcia convive com lúpus, doença autoimune, mas não parou. Reinventou-se. Jogou vôlei pela Nutri, disputou torneios de padel, fez trilhas e hoje compete em corridas de rua e provas com obstáculos. “Participei do Mega Race em Santa Cruz, 6 km com obstáculos. Fiquei em 5º geral entre 90 mulheres. Em 1º na minha categoria. Com lesão muscular no fim da prova. Eu me desafio todo dia.”
A disciplina segue sendo sua marca. “Treino sete vezes por semana. Tenho metas. Gosto da adrenalina da competição. E mais do que isso, gosto de mostrar que dá para seguir, mesmo com dificuldades.”
Hoje, coordena o grupo “Trilhas com a Marcinha”, que reúne mulheres para trilhas e atividades na natureza. “É saúde física e mental. Quero que outras pessoas também experimentem o que o esporte me deu.”
Sobre o futsal feminino, Márcia é firme:
“A gente nunca teve muito incentivo. Sempre foi mais difícil. Mas isso nos fez mais fortes. O que vivemos tem que ser lembrado. Ibirubá teve grandes atletas. É bom relembrar. E mais do que isso, é necessário.”





















