
Rosângela Castelli, produtora de leite há 28 anos na região do Alto Jacuí, relata os desafios da atividade e os investimentos necessários para continuar no setor diante da crise de preços e da falta de mão de obra
Natural de São Pascoal, interior de Selbach, Rosângela Castelli cresceu em meio à agricultura familiar. Há 28 anos, quando se casou com Adelir Castelli, mudou-se para a comunidade de Passo do Padre, onde começou com sete vacas e uma ordenhadeira simples. Desde então, a atividade leiteira se tornou o centro da vida da família. “A gente começou pequeno, buscando uma renda para a família, tudo com muito esforço e dedicação”, conta Rosângela.
Hoje, a propriedade de 22 hectares tem 59 vacas em lactação, produz cerca de 70 mil litros de leite por mês e utiliza ordenha robotizada há três anos. A decisão de investir no robô veio por necessidade: com problemas de saúde, Rosângela não podia mais realizar as tarefas manuais, e a escassez de mão de obra impedia a continuidade do trabalho da forma tradicional.
“Meu médico disse que, se eu continuasse, poderia acabar numa cadeira de rodas. Era isso ou parar com tudo. Nossa filha sonhava em ser veterinária, então chamamos ela para conversar e decidimos investir”, relata. O equipamento custou R$ 845 mil, financiado em dez anos via Pronamp. “A prestação é de R$ 145 mil por ano. Conseguimos pagar com muito esforço, cortando gastos, mas hoje, com o preço do leite, está difícil até guardar para a próxima parcela”, lamenta.
O cenário atual preocupa. O litro do leite, segundo Rosângela, está entre R$ 1,75 e R$ 2,60, dependendo do volume e da qualidade. Em sua propriedade, o valor recebido mais recente foi de R$ 2,31 para 16 mil litros entregues no mês. “Só de imposto são 24% do nosso custo. Trabalhamos no limite”, desabafa.
O investimento em tecnologia, embora represente uma esperança de continuidade, não elimina o trabalho diário. “O robô faz a ordenha, mas exige monitoramento constante. Acordo às 5h, toco as vacas em atraso e acompanho o sistema pelo celular. O gado não se ordenha sozinho se não houver uma gestão ativa”, explica.
Rosângela lembra que a pandemia foi o único momento recente de preços mais altos. “O litro chegou a R$ 4, mas o consumidor também pagava caro. Depois disso, os custos subiram, principalmente com fertilizantes e defensivos, e nunca mais baixaram”, afirma. Toda a produção da propriedade é voltada à alimentação do rebanho, com silagem de inverno e verão ocupando os 18 hectares cultiváveis.
A falta de sucessão rural é outro problema. “Hoje, a maioria dos jovens não quer compromisso. Sem alguém para dar continuidade, o setor vai encolhendo”, analisa. Ela vê a ordenha robotizada como tendência para quem permanecer na atividade: “Muita gente já me procurou querendo saber como funciona. Quem quiser continuar no leite vai ter que investir, não tem outro jeito.”
Apesar das dificuldades, Rosângela demonstra firmeza. “Nunca fiquei de perna pro ar. Mesmo com o robô, estou todos os dias no galpão. A diferença é que agora tenho mais qualidade de vida e consigo continuar”, afirma.
A história da produtora representa a realidade de centenas de famílias da região do Alto Jacuí, onde a produção de leite, por muito tempo, sustentou a agricultura familiar. “Infelizmente, muitos já desistiram. Em Selbah, eram quase mil produtores, hoje são pouco mais de 200”, aponta.





















