
No Dia Nacional do Sistema Plantio Direto, engenheiro agrônomo Vanderlei Neu reflete sobre os avanços, desafios e o legado dessa técnica que mudou a agricultura no país
Celebrado em 23 de outubro, o Dia Nacional do Sistema Plantio Direto recorda uma das maiores revoluções da agricultura moderna. A data remete ao primeiro plantio direto feito em 1972 pelo pioneiro Herbert Bartz, em Rolândia (PR), marco que inspirou gerações e moldou um novo conceito de sustentabilidade agrícola. O engenheiro agrônomo e agricultor Vanderlei Néu destacou a importância dessa técnica para o solo, a produtividade e o futuro do agronegócio.
Natural de Quinze de Novembro, Vanderlei carrega a trajetória de quem viveu a transição entre o arado e a semeadura na palha. Ele lembra que a mudança exigiu coragem, conhecimento e persistência. “Quando o Herbert começou, chamaram ele de ‘alemão louco’. Era uma época em que se acreditava que revolver o solo era essencial. Mas ele insistiu e mostrou que, com palhada e cobertura, a terra ganha vida”, recordou.
No Rio Grande do Sul, o sistema se consolidou a partir dos anos 1990, especialmente após as grandes erosões causadas por chuvas em 1993. Vanderlei recorda que aquele episódio foi decisivo para que produtores percebessem a necessidade de mudar o manejo. “Naquela época, nós perdíamos terra, fertilidade e esperança. Foi ali que começou o movimento para parar de lavrar e adotar o plantio direto. As universidades e empresas começaram a investir em pesquisa e máquinas adaptadas para esse novo sistema”, explica.
Hoje, o engenheiro agrônomo é referência regional no tema. Na sua propriedade, aplica há mais de 30 anos o “verdadeiro sistema plantio direto na palha”, que combina rotação de culturas, manutenção da cobertura vegetal e uso racional de insumos. Ele defende que o método é o único capaz de devolver a fertilidade e o equilíbrio biológico ao solo.
“O agricultor que faz o plantio direto de verdade colhe mais, gasta menos e tem mais segurança, mesmo com as variações do clima”, afirma.
A técnica, que alia produtividade e conservação ambiental, não é apenas um modo de plantar, mas um conceito de vida no campo. “O solo também tem fome: palha nele”, cita Vanderlei, frase inspirada em seu professor José Riedel, referência histórica da pesquisa agropecuária gaúcha. Com orgulho, ele conta que já transmite esse legado ao filho, que sonha em seguir os passos do pai.
Para Vanderlei, o futuro da agricultura passa por um reencontro com o solo e com os valores de quem o cultiva. “O agricultor é o verdadeiro ambientalista. Ele trabalha de madrugada, sob sol e chuva, para alimentar o mundo. O mínimo que o país pode fazer é reconhecer e apoiar quem faz tudo isso com amor e consciência”, diz.
Neste 23 de outubro, a homenagem se estende a todos os agricultores, técnicos, pesquisadores e professores que seguem o ideal de Herbert Bartz — o de produzir mais, com menos impacto e com respeito à terra. Um ideal que, nas palavras de Vanderlei Neu, “é a base da nossa sobrevivência e da nossa dignidade no campo”.





















