
Era por volta das 15h quando a rotina urbana foi rompida por um tombo seco na lomba. Uma motociclista, que tentava vencer a subida próxima ao semáforo, perdeu o controle e caiu, ficando ferida nas pernas. Populares se aglomeraram, fizeram o que podiam: gestos simples de cuidado até que ajuda chegasse. O Samu, naquele instante, já atendia outra ocorrência. Mas quem parou foi quem menos se esperava.
Uma ambulância com placas de outro município. Quinze de Novembro. No volante, Tiago Rafael Budke. Ao seu lado, a técnica de enfermagem Cleonice Maurer Neu. Tinham um destino claro: buscar uma alta médica no Hospital São Vicente de Paulo, em Cruz Alta. Mas, ao avistarem o movimento no acostamento, a urgência mudou de rumo.
“Praticamente os dois, tanto eu quanto a Anice, falamos ao mesmo tempo: vamos parar e prestar atendimento, né?”, relatou Tiago. A decisão não foi pensada — foi instintiva. Uma extensão natural de quem vive a estrada como extensão da vida alheia.
Sem hesitar, a equipe desceu. Confirmaram com os populares que o Samu já havia sido acionado, mas diante da demora, assumiram a responsabilidade. “A gente imobilizou ela na maca rígida. Logo depois chegou a Brigada Militar. Os populares nos ajudaram a carregar a maca para dentro”, detalhou o motorista.
Já que o destino final era o próprio hospital, decidiram levar a vítima junto. A entrada na emergência foi feita com agilidade. A mulher, cujos ferimentos exigiam atenção, foi imediatamente encaminhada ao atendimento.
Somente depois disso Tiago e Cleonice seguiram a missão original: buscar a paciente de alta e retornar a Quinze de Novembro. Sem alarde, sem publicação, sem selfie. Apenas com a consciência tranquila de quem fez o que era certo — e o que era preciso.
A repercussão veio depois. A história ganhou as redes sociais e foi acolhida como símbolo de empatia. “Ser motorista de ambulância é estar atento sempre, em qualquer lugar”, comentou uma internauta. Outra destacou: “Orgulho define! É sobre empatia, profissionalismo e respeito ao próximo.”
A atitude comoveu, mas para Tiago e Cleonice, foi apenas mais um capítulo de um cotidiano de estrada, de sirene e de humanidade. “A gente não pensou duas vezes. Quando a gente escolhe trabalhar na saúde, a gente escolhe cuidar. E cuidar não tem CEP nem fronteira”, resumiu Tiago, com a calma de quem vive para socorrer.
Nessa semana em que se celebra o Dia do Colono e Motorista, o episódio transcende as categorias. Mostra que dirigir ambulância não é apenas conduzir um veículo — é guiar a esperança. E que ser da saúde é, sobretudo, saber parar quando todos seguem. Porque às vezes, o verdadeiro destino é aquele que aparece no meio do caminho.