
Liberto Franken, atual secretário de Desenvolvimento, Agropecuária e Meio Ambiente de Ibirubá, carrega no nome a função e na alma a origem: é colono de essência. No Dia do Colono e do Motorista, ele compartilha lembranças que atravessam gerações e refletem os desafios e as esperanças de quem vive da terra.
A estrada de terra batida, as geadas que formavam crostas de gelo nas poças d’água e os pés gelados sob as carteiras da escola. “A gente ia a pé, quase três quilômetros, e mesmo com o frio, era divertido pra nós. A gente era guri, caminhava sobre o gelo e achava bonito”, recorda Liberto Franken, com a voz embargada de saudade e orgulho.
Antes de ser secretário municipal, Liberto foi, e segue sendo, agricultor. Natural da comunidade de São Lucas, na esquina com São Carlos, ele cresceu num tempo em que tudo era feito à mão. “Naquela época não existia colheitadeira de milho. Era tudo na força do braço. Carroçada de mandioca, milho colhido e debulhado manualmente, criação de suínos… era muito trabalhoso”, conta.
Ainda menino, dividia os estudos com as tarefas da propriedade. O pai cuidava de um pequeno moinho, e a mãe, uma guerreira no campo, ensinou-lhe os primeiros gestos de lida. “Desde pequeno eu estava junto. Gostava dos animais, da rotina. E esse gosto ficou comigo até hoje.”
Ao longo dos anos, viu o campo se transformar. Tratores substituíram juntas de bois, herbicidas chegaram para controlar invasoras, e o plantio direto revolucionou a agricultura. “Ibubá foi pioneira nesse sistema. Na década de 90 começou essa mudança. E junto com os transgênicos, foram as maiores conquistas tecnológicas que tivemos no campo”, observa.
Mas os avanços também trouxeram desafios. “Hoje qualquer propriedade tem seu trator, seu equipamento. Só que o custo é altíssimo. Quem investiu pensando em crescer, hoje está endividado por causa das estiagens e da baixa rentabilidade”, lamenta Liberto. O clima, diz ele, é o maior inimigo da agricultura: “É uma indústria a céu aberto.”
Ao relembrar os anos de engajamento político, Liberto reforça que sua atuação nunca foi movida por cargos, mas por compromisso. “Nunca exerci cargo no sindicato, mas sempre fui participativo. Quando se lutava pelo salário mínimo para aposentadoria do agricultor, eu estava lá.”
Hoje, o desafio maior é manter os filhos no campo. Liberto se emociona ao falar de seus dois filhos, que escolheram permanecer na lida. “É um orgulho. Eles fizeram faculdade, mas sempre voltaram, nunca se desligaram da propriedade. Isso é raro. É difícil convencer os jovens a ficarem.”
A crise da sucessão rural é uma sombra constante. “Se até quem viveu tudo isso pensa em sair, imagina o filho, que vê o sofrimento, a incerteza. A cidade parece mais segura. Mas o amor pela terra pesa. E eu digo sempre: é preciso investir com consciência, sem dar um passo maior do que a perna.”
Mesmo diante das adversidades, Liberto segue firme. “Não é fácil. A tecnologia ajuda, mas não resolve tudo. A produção depende da natureza, e ela tem sido dura. Mas precisamos continuar. Produzir alimento é essencial. E enquanto meus filhos estiverem lá, eu também estarei.”
No interior de Ibirubá, entre sulcos de terra e histórias passadas de pai para filho, Liberto simboliza mais que um produtor rural. Ele representa a essência do colono – aquele que, mesmo sob o peso da enxada ou do volante do trator, semeia o futuro com raízes profundas no passado.