
Em um mundo cada vez mais acelerado, onde o imediatismo desafia valores e vínculos, um grupo de jovens em Ibirubá escolhe aprender com o tempo, com o silêncio da natureza e com a força do coletivo. Há 30 anos, o escotismo local vem moldando gerações com lições que não cabem nos livros — mas que se guardam para a vida toda.
Barracas montadas com precisão, comida preparada pelos próprios jovens, travessias por rios e construção de móveis de madeira com cordas e nós. Para quem imagina o escotismo apenas como brincadeira de acampamento, o Grupo Escoteiro Pitangueira do Mato mostra que vai muito além: é um verdadeiro projeto de formação para a vida.
Neste ano, o grupo completa 30 anos de existência em Ibirubá, e as comemorações já começaram. Composto atualmente por cerca de 40 crianças e adolescentes, divididos entre os ramos Lobinho, Escoteiro, Sênior e Guia, o grupo se reúne todos os sábados à tarde para uma vivência que une valores, autonomia e trabalho em equipe. E tudo isso com o apoio de 10 adultos voluntários e uma rede ativa de pais.
“São atividades planejadas com intencionalidade pedagógica. Até mesmo uma roda pode estar ensinando equilíbrio físico e emocional. O jogo pode parecer apenas diversão, mas carrega um objetivo educacional por trás”, explica Cecília Belló Schweig, uma das chefes escoteiras mais antigas do grupo, que participa desde a fundação.
O escotismo é regido por diretrizes internacionais, nacionais e regionais. Cada atividade, cada progressão e cada distintivo — como o Cruzeiro do Sul, a Lis de Ouro e o Escoteiro da Pátria — fazem parte de um método que desenvolve lideranças, senso de responsabilidade e espírito de serviço.
Entre as experiências marcantes, estão os acampamentos com montagem de abrigos, culinária ao ar livre e até travessias aquáticas, como a que foi realizada recentemente na barragem de Ibirubá. “Eles carregaram seus materiais em pelotas e construíram balsas para cruzar a água. Foi tudo feito por eles. A dor ensina. O desconforto mostra o quanto é importante se organizar. E isso eles levam para a vida”, afirma Cristiano Kulman, um dos chefes do grupo, que também é engenheiro e participa das atividades com os jovens.
Mas não é apenas no mato que o escotismo forma cidadãos. Os encontros semanais desenvolvem competências sociais, emocionais e práticas que fazem diferença inclusive no futuro profissional. Muitos jovens, segundo os chefes, já conseguiram oportunidades de trabalho pelo fato de terem passado pelo grupo. “Sempre dizemos: não dá pra fazer tudo, mas dá pra fazer o melhor possível. E é isso que ensinamos”, afirma Kulman.
O lenço escoteiro, além de símbolo de pertencimento ao grupo, é uma ferramenta multiuso: serve como proteção, curativo, acessório para transporte e até para sinalização. O do Pitangueira do Mato carrega as cores da árvore símbolo de Ibirubá e reforça o sentimento de resistência e identidade local.
Para os interessados em ingressar no movimento, as atividades acontecem aos sábados, das 14h às 17h, na sede do grupo, localizada junto ao Clube Colibri. Crianças a partir de 6 anos e meio já podem participar como Lobinhos. “Recebemos os pais, explicamos como funciona e permitimos que a criança experimente uma ou duas vezes antes de decidir. A filosofia do escotismo exige preparo, responsabilidade e dedicação de todos os envolvidos, inclusive dos adultos que atuam como chefes”, reforça Cecília.
Com três décadas de atuação, o Pitangueira do Mato coleciona histórias e formações. Alguns dos escoteiros atuais já iniciaram como lobinhos e hoje atuam como pioneiros, outros voltam de vez em quando para matar a saudade. Há quem diga que, uma vez escoteiro, sempre escoteiro. E quem cresceu ali confirma: o movimento deixa marcas profundas e positivas.
“A gente ensina que a vida exige estratégias, limites e liderança verdadeira — aquela que ouve, conduz e motiva. O escotismo é um laboratório da vida em sociedade”, finaliza a chefe com orgulho.