Foi em meio ao frio de um sábado chuvoso que o calor da música e da tradição italiana tomou conta do Salão Paroquial de Ibirubá, na 31ª edição do Jantar Italiano do Grupo Fratelli. A grande atração da noite foi o tenor Giovanni Marquezeli, que com sua voz potente e emocionante, proporcionou ao público uma verdadeira viagem pelas canções imortais da Itália.
Antes de subir ao palco, Giovanni concedeu entrevista exclusiva à Rádio Cidade e ao Jornal O Alto Jacuí, em um espaço reservado nos fundos do salão, onde revelou detalhes de sua trajetória e dos cuidados com sua voz, seu maior patrimônio. Paulista de nascimento, Giovanni vive há 21 anos no Rio Grande do Sul e atualmente reside em Flores da Cunha. A ligação com a região, no entanto, vem por meio da esposa, natural de Espumoso, o que torna cada visita ainda mais especial.
"Quando venho pra cá é sempre uma alegria. Cantei em várias cidades da região e sempre fui muito bem acolhido. O público daqui tem uma energia única", contou o artista, que acumula 21 anos de carreira e apresentações de peso, como a recente participação na ópera Turandot, de Giacomo Puccini, junto à OSPA e à Companhia de Ópera do RS.
Curiosamente, Giovanni descobriu sua voz lírica apenas depois dos 20 anos, ao tentar imitar Agnaldo Rayol em uma música da novela O Rei do Gado. “Eu não sabia que tinha essa voz. Comecei a cantar sertanejo, mas quando ouvi minha voz naquela canção, senti algo diferente. Só fui descobrir de verdade esse dom lírico quando vim para o Sul e me deparei com a forte cultura italiana. As pessoas se encantavam quando eu cantava em italiano”, relembrou.
Foi o início de uma nova etapa: estudou canto lírico na Itália, morou no país, e aos poucos foi trilhando seu caminho no mundo da ópera. "Hoje me vejo no auge. Aos 44 anos, estou na minha melhor forma vocal, como dizem os grandes mestres, a voz do tenor só amadurece de verdade depois dos 45", revelou, com brilho nos olhos.
Giovanni também compartilhou os bastidores da preparação para cada apresentação. Dorme bem, bebe muita água, não fuma, evita álcool e alimentos gordurosos nos dias de espetáculo. “Nosso instrumento é vivo, muito sensível. A gente precisa cuidar como se fosse uma joia rara. E é”, pontuou.
Entre boas histórias relembrou sua participação no programa da Eliana, no SBT, em 2012, onde foi desafiado a quebrar uma taça de cristal apenas com a voz. “Foi a única vez que a taça me deu lucro, e não prejuízo”, brincou, contando que levou R$ 10 mil pelo feito.
Acompanhado do pianista Éder Bergosa, Giovanni preparou um repertório de aproximadamente uma hora para o público ibirubense, equilibrando emoção e intensidade. “A gente tem que deixar as pessoas com gosto de ‘quero mais’. Show bom é aquele que passa rápido”, disse ele, revelando que ainda sente frio na barriga antes de cada apresentação. “O dia que eu parar de sentir isso, é porque chegou a hora de parar de cantar.” Ao final da entrevista, o cantor fez questão de agradecer à comunidade de Ibirubá e ao Grupo Fratelli, elogiando a organização do jantar e a qualidade do cardápio típico. “Na Serra a gente come bem, mas fazia tempo que eu não comia um capeletti tão bom como esse. Nota 12!”, brincou.
