Em uma entrevista detalhada à Rádio Cidade, o consultor e proprietário da Projeção Consultoria e Pesquisas, Leni Luiz Fior, compartilhou sua análise sobre o papel das pesquisas eleitorais na definição de estratégias de campanha e no direcionamento das candidaturas em Ibirubá. Com mais de três décadas de experiência no ramo, Fior explicou que a precisão das pesquisas e o entendimento do comportamento eleitoral local foram decisivos para a formação de coligações e o fortalecimento de candidaturas, destacando o papel da direita como força crescente no cenário político regional.
Para Fior, a compreensão do perfil do eleitorado é um elemento-chave no planejamento de uma campanha bem-sucedida. Em sua última pesquisa, realizada duas semanas antes das eleições, Fior mapeou o comportamento dos eleitores em cada bairro da cidade, identificando regiões onde cada candidatura tinha maior ou menor apoio. “Fizemos uma análise detalhada dos 15 bairros de Ibirubá, verificando onde o apoio era mais forte e onde precisava de um trabalho mais intenso. Em bairros como Jardim e Planalto, onde o Frentão tinha base consolidada, foi surpreendente ver a migração para o lado oposto”, afirmou.
Fragmentação e Alianças Decisivas
Outro fator decisivo, segundo Fior, foi a fragmentação do “Frentão”, uma coligação que historicamente reunia forças políticas locais em torno de um único grupo. Na eleição recente, essa união se desfez, gerando novas coligações e levando parte do eleitorado tradicional para outra direção. “Com a criação do PL em Ibirubá e a adesão de lideranças locais ao partido, a antiga aliança se dividiu. Essa fragmentação foi decisiva e possibilitou uma redistribuição de votos significativa, especialmente entre os que buscavam uma mudança”, analisou Fior.
O especialista também abordou como a nova configuração de coligações possibilitou uma fusão entre o conservadorismo e o sentimento de renovação, que tem ecoado fortemente entre os eleitores da região. “Hoje, a direita em Ibirubá se fortaleceu, substituindo a força que o PT representava há anos. A adesão ao bolsonarismo e a busca por renovação do eleitor conservador foram elementos essenciais para definir o resultado”, comentou.
A metodologia de Fior inclui o estudo do histórico de voto, que revela tendências e ajuda a prever mudanças de preferência. A última pesquisa indicava uma diferença de mais de 1.500 votos a favor do candidato apoiado pela nova coligação. Segundo Fior, um dos pontos cruciais foi o grau de convicção dos eleitores. “Identificamos que 91% dos eleitores já estavam decididos, enquanto entre o outro candidato, apenas 76% tinham o voto consolidado”, explicou. “É um dado importante, pois a taxa de convicção reflete a estabilidade do apoio e a probabilidade de os eleitores mudarem de lado. Isso ajuda na organização de campanhas, especialmente na reta final.”
Direcionamento de campanha por bairro
Fior revelou que um dos diferenciais de seu trabalho é o mapeamento do voto por bairro, possibilitando o ajuste das campanhas com base nos dados obtidos. “A pesquisa mostrou, por exemplo, que o bairro Jardim, antes um reduto do frentão, registrava agora 62% de apoio para o lado oposto. Essas informações ajudaram a campanha a identificar onde concentrar esforços para conquistar eleitores indecisos ou aumentar o convencimento nas regiões já favoráveis”, relatou.
Além disso, bairros como Planalto e Progresso Alta também apresentaram uma concentração de apoio importante, enquanto o bairro Chácara era uma das poucas regiões onde a oposição mantinha uma leve vantagem. “Esses dados ajudam a direcionar as ações. Se um bairro tem uma votação equilibrada, por exemplo, é lá que os candidatos precisam reforçar presença e engajamento”, comentou.
Compra de votos e ética eleitoral
O consultor comentou ainda sobre a persistência de práticas antigas e antiéticas em regiões menores. Segundo Fior, a compra de votos ainda é uma realidade em cidades pequenas, o que exige cautela nas análises pré-eleitorais. “Infelizmente, é muito mais comum do que se imagina. Em famílias de menor renda, promessas de pagamento em troca de votos ainda ocorrem, e o valor oferecido pode variar de acordo com o potencial de influência dessa família. Esses detalhes podem alterar o comportamento do eleitor nos últimos dias de campanha e precisam ser considerados para evitar surpresas nas urnas”, disse ele.
Durante a entrevista, Fior destacou a importância de se manter a credibilidade e a ética nas pesquisas eleitorais, o que depende, entre outras coisas, do registro do trabalho com um profissional estatístico credenciado. “Infelizmente, perdi meu estatístico por um acidente, o que me impediu de publicar algumas pesquisas”, comentou Fior. Sem esse profissional, as pesquisas não podem ser oficialmente divulgadas, restando ao consultor o uso dos dados para orientar as campanhas. Para driblar essa limitação, Fior planeja se especializar em estatística, ampliando ainda mais seu controle sobre os levantamentos.
Apesar das dificuldades, Fior segue confiando no impacto positivo das pesquisas para o alinhamento de estratégias de campanha, que garantem aos candidatos um cenário mais realista e eficiente. “Minha função não é apenas acertar o resultado, mas informar com precisão e transparência, ajudando os candidatos a entenderem onde estão e onde precisam chegar para alcançar o eleitor”, finalizou