
Nem sempre as pessoas mais importantes são as que falam mais alto. Há quem transforme o mundo em silêncio — com trabalho, firmeza e coração. Assim era Marga Guimarães. No sábado, 7 de junho, Ibirubá perdeu uma mulher que atravessou décadas sem precisar de aplausos, mas que conquistou o respeito de uma cidade inteira. Aos 68 anos, Elisabeth de Fátima Guimarães faleceu no Hospital da Comunidade Annes Dias, em decorrência de insuficiência respiratória e pneumonia em decorrência de influenza, deixando um legado que segue vivo em cada palavra impressa, em cada gesto de amor silencioso.
Marga foi uma mulher de múltiplos talentos e presença marcante na vida pública de Ibirubá. Filha de Justino Guimarães Neto, fundador do Jornal O Alto Jacuí, e de Maria Eloina de Faria Guimarães, teve quatro irmãos - Cassio Augusto (+2017), Carlos Magno (+2024), Kathia Margareth (+2015) e Mônica, que atualmente reside em Santa Catarina. Trabalhou na Prefeitura de Ibirubá como consursada, e teve seu primeiro filho, André, em 1980. Em 1983 mudou-se com o então esposo Leonir Brignoni para o Paraná, onde ficou até 85. Ao retornar para Ibirubá mudou de emprego e passou a atuar como vendedora. Seu envolvimento com o jornalismo começou em meados de 1989. Em 1995 nasceu a segunda filha, Andressa. Marga trabalhou como repórter, diagramadora, revisora e editora. Em novembro de 2002, após o falecimento de Justino, assumiu oficialmente a direção do jornal, liderando com seriedade, ética e um profundo compromisso com a verdade. Com seu jeito firme e reservado, moldou uma linha editorial baseada na responsabilidade e no respeito à comunidade. Mesmo nos momentos mais difíceis, Marga manteve o jornal funcionando, sempre com olhar crítico, dedicação silenciosa e uma força que nem sempre aparecia, mas que todos sentiam.
Em 2018, sentindo que era hora de passar o bastão, entregou a condução do jornal à filha, que havia se formado em Jornalismo em 2016, dando continuidade a uma história familiar que atravessa gerações. Desde então, manteve-se por perto, oferecendo conselhos, revisando textos, sugerindo pautas — sempre com o mesmo zelo que marcou sua atuação desde o início.
Sua ligação com o jornal nunca foi apenas profissional. O O Alto Jacuí era uma extensão de sua identidade, um espaço onde ela expressava seu amor por Ibirubá, sua preocupação com os rumos da cidade e seu senso de responsabilidade social. Marga não era de discursos, mas suas ações sempre falaram alto. Consolidou o jornal como um pilar do jornalismo local e como uma referência de credibilidade para a região.
Ao lado da carreira exemplar, Marga cultivou com ainda mais intensidade sua vida familiar. Era mãe dedicada de André e Andressa, com quem dividia os sonhos, os valores e o orgulho de ver a família unida. Sua relação com o genro Bruno era de carinho, respeito e confiança. Como avó de Manuela Eloah e Aurora, vivia com brilho no olhar cada gesto das meninas, sentindo-se renovada e profundamente conectada às novas gerações.
Mesmo com uma vida marcada pelo trabalho, Marga nunca deixou de se desafiar. Entre 2015 e 2016, realizou um de seus maiores sonhos: concluiu o curso de Administração de Empresas, mostrando que a vontade de aprender e crescer não conhece idade. Foi uma conquista silenciosa, mas gigante — como tudo que ela fazia.
O velório aconteceu na Capela Mortuária de Ibirubá e reuniu amigos, familiares e colegas de profissão. A cerimônia de despedida foi realizada na noite de sábado, às 21h30min, em um ato íntimo e respeitoso, seguido do translado do corpo para o Crematório Cielo, onde ocorreu a cremação, conforme desejo manifestado por ela em vida.
Apesar do perfil reservado, Marga era daquelas presenças que marcam profundamente. Pessoas que não buscam protagonismo, mas que, mesmo assim, tornam-se referência pelo que fazem, pelo que inspiram e deixam. Sua ausência será sentida nos corredores da redação, nas páginas do jornal, nas conversas da cidade e no coração da família. Em uma homenagem comovente, seus filhos André e Andressa escreveram:
“Você foi nosso norte, nossa segurança, nossa raiz. Tudo o que somos tem um pouco de você. Obrigado por nos ensinar a ser fortes, mesmo quando está difícil. Obrigado por ter sido mãe com M maiúsculo — em tudo, sempre. Sentiremos sua falta todos os dias, mas vamos seguir com aquilo que você mais nos ensinou: a ter coragem.”