31 de Março, 2025 09h03mTRADICIONALISMO por Redação Integrada Rádio Cidade de Ibirubá e Jornal O Alto Jacuí

Tradição, fé e união marcam a 5ª Cavalgada do Divino na localidade de Rincão Seco, interior de Ibirubá

Evento promovido pelos Desgarrados do Rincão Seco reuniu mais de 100 pessoas e celebrou o mês do padroeiro São José com procissão, oração e festa campeira

No último sábado, 22 de março de 2025, a localidade de Rincão Seco viveu mais um capítulo de fé, tradição e confraternização com a realização da 5ª Cavalgada do Divino Espírito Santo. O evento, organizado pelo Departamento de Cavaleiros da Associação Desgarrados do Rincão Seco, reuniu cerca de uma centena de pessoas, entre cavaleiros, moradores e visitantes, em uma celebração que reverenciou o padroeiro da comunidade, São José, e exaltou as raízes culturais da região.

A manhã começou cedo. À medida que o sol se levantava no horizonte, os primeiros cavaleiros já se preparavam nos galpões e pátios da comunidade. Entre eles, Paulo Farias, presidente da associação, ao lado de seu cavalo Tião, já dava os primeiros comandos. “É um dia de festa, mas também de reflexão. Essa cavalgada é uma homenagem ao nosso padroeiro, São José, e uma oportunidade para mostrar às novas gerações o valor de manter viva a fé e as tradições”, afirmou.
A procissão a cavalo partiu da sede dos Desgarrados até a casa do guardião do Divino Espírito Santo, Jorge Medeiros. A relíquia centenária, símbolo máximo de fé da comunidade, foi cuidadosamente retirada do oratório e colocada em destaque. A imagem do Divino, adornada com fitas coloridas carregadas de promessas e agradecimentos, seguiu em procissão até a Capela São José.
Fé e oração como base da caminhada
Antes da partida, Arão Aldori Medeiros Escobar reuniu todos os participantes para um momento de oração. “Nós sabemos que os animais são imprevisíveis, então vamos pedir proteção para que tudo ocorra bem. Não é só pedir, é também agradecer pelas graças que a gente recebe”, disse ele, emocionado, convidando os presentes a rezar um Pai Nosso. A cena, marcada pelo silêncio respeitoso e olhos fechados, reforçou o sentido espiritual da cavalgada.
A emoção também esteve presente na fala de Dona Romilda, uma das matriarcas da comunidade e guardiã da fé. “Esse Divino está conosco há muitas gerações. Era da nossa bisavó Maria. Desde pequenos, aprendemos que essa imagem nos protege. Cada fita colocada ali representa uma promessa cumprida, uma graça recebida. A gente preserva isso com muito amor”, explicou, ao lado da irmã Vera, enquanto posicionavam as fitas na imagem.
Café campeiro: herança dos tempos antigos
Os participantes foram recepcionados na casa de Jorge para um café campeiro daqueles de fazer história. No fogão à lenha, a esposa Maristela  coordenava a distribuição de quitutes típicos da região: torresmo, bolinho frito, queijo de porco, cueca virada, doce de abóbora, bolachas caseiras e até murcilha. E, é claro, o famoso “café com pau dentro”, como se costuma dizer no campo quando a brasa é colocada na chaleira para assentar o pó. “É o café da nossa infância, feito com carinho. Isso aqui é mais que um café, é um reencontro com nossas origens”, disse Jorge, sorridente.
Enquanto as bandeiras eram recolhidas e o café servia de ponto de encontro, mais famílias iam chegando. Crianças, jovens e idosos, todos com uma história para contar. Entre eles, José Adão Cordeiro de Andrade, de 81 anos, não escondia a emoção: “Nasci aqui, nesse chão. Quando volto, parece que rejuveneço. Eu trago a equipe de trabalho junto, e quando vejo, já tô botando a mão. Não dá pra ficar parado. Isso aqui é vida!”.
Tradição que se passa de geração para geração
A presença das crianças chamou a atenção. Júlia Meinen Feil, de 10 anos, neta do senhor Lírio, chegou montada em seu cavalo chamado Honesto. “Eu gosto de andar a cavalo com o vô. Ele me ensinou tudo. É legal participar”, disse. Já o pequeno Robe, de apenas 3 anos, fez sua primeira cavalgada acompanhado do primo e do pai Adelmo. “É a primeira de muitas. Ano que vem ele vem de novo”, garantiu o pai, sorrindo.
Churrasco na vala e sabores da infância
O almoço foi um espetáculo à parte. Em uma vala escavada à moda antiga, carne de gado e galetos eram assados em espetos de madeira de laranjeira do mato, preparados por Arão Medeiros Escobar e Jorge Medeiros. “A gente corta os espetos, faz tudo como era feito há décadas. É um resgate da memória. Aqui não tem churrasqueira elétrica nem grelha de aço. Aqui é tradição pura”, explicou Arão, que também organizou alguns cavalos para os participantes e preparou o mato da recepção.
Três churrasqueiras davam conta da demanda: a vala tradicional, uma carretinha trazida por Carlos Hélio da Motta, e uma construída com tijolos no estilo campeiro. Pedro Paulo Andrade, nascido na localidade, acompanhava tudo com olhos atentos. “Eu me criei aqui e não tinha isso. Só futebol. Mas ver essa festa hoje é como reviver a infância. Eu tô com 71 e quero ir nessas festas até os 100”, declarou, emocionado.

O anfitrião e o legado familiar
A festa ocorreu na propriedade de Sérgio Vogel, que tem orgulho de manter o espaço preservado. “Nasci aqui, vivo aqui há 63 anos. Quando era criança, jogava bola aqui e tomava guaraná no bolicho. Hoje, ver esse povo todo é uma alegria imensa. Meu pai doou o terreno da igreja, e seguimos cuidando da nossa terra. As porteiras estão abertas para quem quiser celebrar com a gente”, afirmou.
A força da associação e o futuro dos Desgarrados
Fundada em 2015 por 12 pessoas, entre elas Paulo Farias, a Associação Desgarrados do Rincão Seco nasceu do desejo de reencontrar aqueles que deixaram a localidade. “A ideia surgiu numa festa. Eu percebi que quase não conhecia mais ninguém aqui. Reunimos os ‘desgarrados’ para manter viva a história dos nossos pais e avós. Tudo era feito a cavalo. Hoje, a gente resgata a culinária, as cavalgadas, a fé e os encontros que marcaram nossa infância”, contou o presidente.
Com eventos como a Noite de Ronda, que acontece em julho, e grandes festas com shows de artistas como Cordiona, Fundo da Grota e Pedro Ortaça, os Desgarrados mantêm a comunidade unida e ativa. O Departamento de Cavaleiros já conta com mais de 20 integrantes, todos com raízes no Rincão Seco, e promove encontros regulares com música, comida campeira e roda de causos.
Além das atividades culturais, a associação realiza ações sociais, como a manutenção do cemitério local, apoio ao colégio da comunidade e auxílio a outras entidades.

Dez anos de história e uma grande celebração à vista
A associação prepara agora o grande evento que marcará seu 10º aniversário, no dia 6 de dezembro de 2025. “Vai ser um ano de muitas celebrações. Estamos colhendo os frutos de uma caminhada feita com amor, dedicação e apoio da comunidade”, concluiu Paulo.
A atual diretoria dos Desgarrados é formada por Paulo Farias (presidente), Sergio Vogel (vice-presidente), Arão Medeiros Escobar (secretário) e Gilberto Vogel (tesoureiro). Juntos, eles seguem transformando tradição em ação, memória em encontro, fé em comunidade.
Enquanto o fogo da vala consumia lentamente os troncos, e a fumaça subia entre as árvores, era possível perceber: no Rincão Seco, mais do que uma festa, a Cavalgada do Divino é um abraço coletivo entre passado, presente e futuro.

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