
Evento promovido pelas casas Ilê de Xangô Afonjá Ganjui e Ilê de Xangô Yoxun acontece no dia 4 de outubro e será aberto ao público, com programação especial para as crianças e arrecadação de doces.
A celebração de Cosme e Damião tem raízes profundas tanto na tradição cristã quanto nas religiões de matriz africana. Em Ibirubá, a festa será realizada em conjunto pelas casas Ilê de Xangô Afonjá Ganjui e Ilê de Xangô Yoxun, reunindo fiéis, simpatizantes e moradores da cidade em um momento de fé, alegria e união.
“Essa é uma das festas mais doces do nosso calendário religioso, tanto no sentido simbólico quanto literal. Cosme e Damião são associados à pureza, à inocência e à proteção das crianças”, explicou o sacerdote Pai Gabriel Tiangó Ganjui, nascido em Ibirubá e dirigente de uma das casas organizadoras.
Segundo os organizadores, a programação começa com uma gira aberta ao público, onde entidades espirituais da umbanda se manifestam em trabalhos voltados ao bem-estar físico, emocional e espiritual dos presentes. Em seguida, haverá uma confraternização com distribuição de doces para as crianças. “A criança representa a alegria, a leveza e o recomeço. Cosme e Damião trazem esse axé de fartura, de renovação e felicidade”, afirma Pai Juliano Seefeldt, que também atua como dirigente espiritual na cidade.
Além da celebração em si, a proposta do evento envolve uma ação solidária. Os organizadores estão promovendo uma campanha de arrecadação de doces típicos, como pipoca doce, maria-mole, balas, paçoca e marshmallow. O objetivo é montar saquinhos que serão distribuídos posteriormente em bairros de Ibirubá, ampliando o alcance da ação.
“É uma festa das crianças, mas também de partilha. Por isso, contamos com a colaboração da comunidade para fazer dessa festa um momento ainda mais bonito”, convida Pai Gabriel.
As doações podem ser entregues diretamente nos terreiros participantes ou combinadas via redes sociais das casas, que estão ativamente divulgando a campanha.
Cosme e Damião no sincretismo religioso
Na tradição católica, Cosme e Damião são santos gêmeos que viveram no século III e dedicaram-se à medicina, cuidando de pobres e doentes sem cobrar pelos serviços. Por isso, tornaram-se padroeiros dos médicos, farmacêuticos e das crianças.
Já nas religiões afro-brasileiras, eles são sincretizados com os Ibejis, entidades infantis que simbolizam o equilíbrio, a pureza e a energia vital. “Os Ibejis se apresentam com a forma de crianças porque a alma não tem idade. A manifestação em forma infantil é uma forma simbólica de transmitir alegria e leveza”, detalha Pai Juliano.
A manifestação dos Ibejis, assim como de outras entidades como caboclos e pretos-velhos, é um dos elementos centrais da umbanda, religião que mescla elementos do catolicismo, espiritismo e das culturas afro-indígenas. Segundo os sacerdotes, todas as manifestações durante a festa são conduzidas com respeito, acolhimento e abertura ao diálogo com outras crenças.
Reconhecimento e visibilidade
O evento de outubro também se insere em um momento de avanços na valorização da cultura afro-brasileira em Ibirubá. Foi aprovada recentemente pela Câmara de Vereadores a criação da Semana da Consciência Negra, com atividades voltadas ao fortalecimento da identidade negra e das religiões de matriz africana.
“A aprovação dessa semana é uma vitória histórica. São 500 anos de luta contra o apagamento da nossa cultura, e agora temos um espaço oficial para mostrar quem somos, nossa história e nossa fé”, comemora Pai Gabriel.
Além das ações educativas, a Semana da Consciência Negra também contará com o lançamento de um documentário sobre a presença negra e indígena na história de Ibirubá, projeto que conta com a parceria do Instituto Federal e lideranças locais. “A gente quer resgatar as origens de quem estava aqui antes da colonização. É uma história invisibilizada que precisa ser contada”, reforça Pai Juliano.
Convite aberto
A festa de Cosme e Damião acontece no dia 4 de outubro, às 8h30, na Rua Osvaldo Cruz, 1031, bairro Dila, nos terreiros Ilê de Xangô Yoxun e Ilê de Xangô Afonjá Ganjui. A entrada é gratuita e todas as pessoas são bem-vindas, independentemente de sua religião.
“Nossa casa é uma casa de axé, de alegria, de fartura. Todos que quiserem conhecer, ajudar ou receber esse axé estão convidados. Axé se multiplica quando é compartilhado”, finaliza Pai Juliano.