
Janete Kumm compartilha sua trajetória com as plantas medicinais e destaca o poder curativo da natureza aliado ao conhecimento científico
A relação com as plantas medicinais nem sempre começa nos livros — às vezes, ela brota da dor. No caso de Janete Kumm, a fitoterapia tornou-se parte essencial de sua vida após enfrentar um diagnóstico crônico de fibromialgia. “Usei medicamentos por 14 anos e, embora aliviassem a dor, acabaram comprometendo meu fígado. Foi quando percebi que precisava buscar alternativas”, relata a especialista em práticas integrativas.
Educadora por mais de quatro décadas, Janete encontrou nas plantas uma nova missão: educar para o cuidado com a saúde de forma complementar. Ela conta que iniciou sua jornada com estudos em homeopatia e fitoenergética — área que trabalha a energia sutil das plantas —, até decidir mergulhar no universo das plantas medicinais tradicionais. “Quis estudar nossas raízes, me reconectar com a 'mãe Gaia'. A natureza nos oferece tudo o que precisamos para manter e recuperar a vitalidade, mas nos afastamos dela com o tempo”, reflete.
Das experiências pessoais ao projeto coletivo
A partir das próprias vivências, Janete desenvolveu um projeto chamado Escuta Terapêutica Caminho da Mãe Gaia, no qual ouve relatos de quem a procura e propõe alternativas de cuidado baseadas nas plantas medicinais. “Eu escuto, anoto tudo sobre a saúde da pessoa e depois trago possibilidades. Ela mesma escolhe qual planta deseja utilizar.
Junto a outras mulheres, como costureiras, massoterapeutas e especialistas em florais, Janete organiza a produção de travesseiros terapêuticos, sachês aromáticos, tinturas, xaropes e emplastros, todos feitos com ervas específicas para cada necessidade.
Educação sobre o uso correto dos chás
Mais do que indicar o uso de ervas, Janete enfatiza a importância de ensinar como preparar um chá de forma correta. “Muita gente ferve o boldo, por exemplo, e perde todas as propriedades”, orienta. Ela também alerta sobre o uso de recipientes inadequados. “Nada de ferver em canecas de alumínio ou plásticos comuns. O ideal é usar vidro ou cerâmica”.
A especialista reforça que a fitoterapia não substitui medicamentos prescritos nem o acompanhamento médico.Plantas da região e saberes populares
Segundo Janete, muitas das plantas utilizadas na região de Ibirubá têm ações anti-inflamatórias, digestivas, calmantes e depurativas. “Camomila, erva-doce, boldo-do-Chile, alecrim, capim-limão, hortelã, arnica, carqueja… são remédios ao nosso alcance”, afirma.
Ela destaca a importância de retomar a cultura dos canteiros de chás nas casas. “Hoje em dia, é raro ver um quintal com plantas medicinais. A gente compra chá em saquinho no supermercado, mas perde grande parte das propriedades com o processamento.”
Mesmo quem mora em apartamento pode cultivar. “Tenho mais de 30 espécies em vasos. Onde tem luz e amor, uma planta pode crescer”, garante.
Parcerias e políticas públicas
Janete integra o Conselho Municipal de Saúde e vê avanços na aceitação das práticas integrativas. “A Secretaria da Saúde está engajada. As agentes comunitárias de saúde, por exemplo, criaram um lindo canteiro de ervas medicinais em frente ao Posto de Saúde Central.”
Ela acredita que o conhecimento tradicional — antes passado de forma oral, entre gerações — agora encontra suporte em pesquisas e políticas públicas. “Desde 2006, temos uma legislação que reconhece a fitoterapia como prática complementar no SUS. Mas ainda somos desbravadores nesse caminho”, aponta.
Cuidar é voltar à essência
No fim da entrevista, Janete deixa uma reflexão: “A medicina alopática fragmentou o nosso corpo. Um médico cuida do coração, outro do joelho. Mas a fitoterapia vê o ser humano como um todo: corpo, mente e espírito. E isso, mais do que ciência, é amor.”