
O médico Dr. Etiani Messerchmidt explicou que o grande agravante da dengue continua sendo a desidratação. “Muitas vezes a pessoa não apresenta vômito nem diarreia, mas perde líquidos para fora dos vasos, e isso faz com que a pressão baixe e o quadro evolua rapidamente. Soma-se a isso a queda nas plaquetas, que pode levar a sangramentos. Não é uma doença para se automedicar, como acontece com gripes ou resfriados”, destacou. O médico alertou contra o uso de anti-inflamatórios como AAS infantil, ibuprofeno e Cataflan, indicando apenas paracetamol e dipirona, sempre com acompanhamento profissional.
Sobre o avanço da doença no bairro Progresso, os agentes de saúde relataram frustração com a reincidência de focos de mosquito em residências já visitadas. “A gente limpa, mobiliza contêiner, agentes de endemias, pessoal das obras. Mas se o morador não colaborar, tudo isso cai por terra. A gente encontra criadouros nos mesmos locais dias depois”, afirmou um agente. “O mosquito tem uma capacidade de reprodução absurda. Um único inseto pode gerar centenas de novos mosquitos em poucos dias.”
O agente Jorge , da Vigilância em Saúde, reforçou que o fumacê não resolve o problema sozinho. “É um mito achar que aquela fumaça vai matar todos os mosquitos. Ela atinge apenas os que estão voando. Os ovos continuam ali. E se o pátio não estiver limpo, tudo recomeça”, explicou. Segundo ele, a melhor solução continua sendo a varredura diária no pátio e a eliminação de qualquer recipiente que acumule água.
Outro ponto fundamental destacado pelas autoridades é o comportamento da pessoa já infectada pelo vírus. Conforme o próprio Dr. Etiani ressaltou, muitos moradores diagnosticados com dengue continuam circulando no bairro, o que contribui para a ampliação dos casos. “A pessoa com dengue, principalmente nos primeiros dias — quando está na fase de viremia — tem grande quantidade de vírus no sangue. Se ela for picada por um mosquito nesse período, aquele mosquito, que antes era saudável, se torna vetor e poderá transmitir a dengue a outros moradores. Pior ainda, pode passar isso para a prole. Por isso a importância do repouso, da hidratação e do uso de repelente também por quem já está doente”, alertou.
Ele ainda reforçou que quem está com dengue não deve visitar familiares ou circular pelo bairro. “O risco não é só para quem não pegou dengue. Quem já está com a doença também deve usar repelente para evitar ser picado e transmitir o vírus. É um ato de responsabilidade com quem você ama. Ninguém que passou por isso quer ver o outro sofrendo do mesmo jeito.”
O mapeamento feito pela equipe técnica revelou que boa parte dos quarteirões do bairro Progresso já registra ao menos um caso ativo. “A interação entre vizinhos acaba facilitando essa propagação. A pessoa infectada vai à casa do vizinho, onde há mosquitos, e pronto: inicia-se outro foco. É de casa em casa, de quarteirão em quarteirão.”
Como forma de se antecipar a um eventual colapso na rede de atendimento, foi criado um plano de contingência estruturado em três fases, pronto para ser acionado conforme o avanço da demanda. A primeira etapa já está em curso com o reforço nas unidades de saúde, principalmente na hidratação de pacientes. Caso a situação se agrave, há previsão de ampliação do horário de atendimento na unidade central, exclusivamente para casos de dengue — inclusive no turno da noite, após as 17h, para evitar a sobrecarga no plantão hospitalar.
Também foi firmada uma parceria com o Hospital da Comunidade Annes Dias, que poderá utilizar áreas internas como centro de hidratação, com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde no fornecimento de insumos e profissionais. A compra emergencial de soro e medicamentos já foi realizada, garantindo o abastecimento das unidades.
A articulação inclui ainda laboratórios privados e farmácias, que realizam testes e notificam a Secretaria de Saúde. “Essas notificações são fundamentais. A gente não quer só números. Cada caso nos ajuda a agir no território certo, como estamos fazendo agora no bairro Progresso. Se os testes forem feitos sem notificação, perdemos tempo e foco”, explicou Dr. Etiani.
Embora não haja um número exato de casos que defina o início das fases seguintes, o plano será ativado tão logo houver aumento expressivo na procura por atendimento. “Dessa vez, não vamos improvisar. Em 2023, apesar de termos um plano, não chegamos a executar. Isso gerou sobrecarga e desorganização. Agora, estamos nos antecipando para não deixar ninguém sem atendimento — nem os casos de dengue, nem os demais pacientes que precisam dos nossos serviços”, finalizou o médico.