
Mateus era um menino alegre, envolvido com o esporte, com a igreja e com a comunidade. Em poucos minutos, tornou-se vítima de uma armadilha cruel da internet. Agora, seus pais percorrem escolas, rádios e redes sociais alertando sobre o que nenhum deles jamais imaginou viver: a dor de perder um filho para um golpe virtual.
O que era para ser mais um domingo comum na rotina da família Krug, em Fortaleza dos Valos, transformou-se numa tragédia que abalou não apenas os pais de Mateus, mas toda a comunidade do Alto Jacuí. Aos 13 anos, Mateus Krug foi encontrado morto dentro de casa, vítima de uma armadilha cibernética conhecida como "sextorção", quando criminosos utilizam a troca de imagens íntimas para ameaçar e extorquir. O agressor se passou por uma jovem chamada “Bela”, usando um número internacional, e em poucos minutos de conversa via WhatsApp, desencadeou uma situação que levaria ao desfecho mais doloroso possível.
Joice e Thiago, pais de Mateus, agora dedicam suas vidas a um novo propósito: levar esse alerta adiante para que nenhuma outra família passe pelo mesmo sofrimento. “A gente poderia estar em casa vivendo o nosso luto, mas sentimos que isso virou uma missão”, disse Joice, emocionada. Eles têm sido convidados a falar em escolas e eventos sobre segurança digital, alertando pais, professores e adolescentes sobre os perigos do mundo virtual.
Mateus era um menino ativo, amoroso e querido. Participava de escolinhas de futebol, de coral, de aulas de violão, da juventude luterana e foi até vereador mirim. Tinha o sonho de ser goleiro ou engenheiro mecânico. Gostava de pescar, acampar e voar de paramotor com o dindo. Era, segundo seus pais, um garoto feliz e com um coração bondoso.
“Ele era muito correto, e talvez justamente por isso, ao se ver envolvido naquela situação de chantagem, entrou em pânico. Sentiu-se exposto, ameaçado, envergonhado”, relatou Tiago. A abordagem foi rápida e covarde. Acredita-se que o contato com o criminoso começou e terminou no intervalo de apenas vinte minutos — tempo entre ele chegar em casa após o culto e o retorno dos pais.
As investigações indicam que o criminoso se passou por uma adolescente, criou um laço rápido, incentivou a troca de imagens íntimas e passou a ameaçar Mateus com a divulgação dessas fotos. O objetivo: obter dinheiro ou mais material. “Eles não querem só dinheiro. Eles vendem essas imagens. Há quadrilhas que se alimentam da ingenuidade de crianças e adolescentes”, explicou Joice.
Mesmo sendo monitorado pelos pais, que tinham acesso às senhas do celular e conversavam abertamente com ele sobre sexualidade, Mateus não conseguiu pedir ajuda. “Ele sabia que podia confiar em nós, mas o medo do julgamento — não só nosso, mas da comunidade — foi maior. Era uma criança muito sensível, que se cobrava muito. Aquilo foi um pânico psicológico que ele não soube administrar”, contou a mãe.
A tragédia expôs o tamanho da vulnerabilidade infantojuvenil nas redes. Segundo o UNICEF, um em cada três usuários da internet é criança ou adolescente. Já o Ministério da Saúde aponta o suicídio como a terceira causa de morte entre jovens de 10 a 19 anos no Brasil, com aumento de 40% nos últimos dez anos. Crimes como aliciamento, cyberbullying e incitação à automutilação estão por trás desses números.
“Hoje a gente sabe que existem comunidades inteiras dentro das redes sociais que promovem desafios perigosos, trocas de imagens, crimes de ódio. Tudo começa de forma inofensiva, com vídeos aparentemente normais, mas o algoritmo vai conduzindo os jovens para ambientes cada vez mais tóxicos”, alertou Joice.
Nas palestras que vêm fazendo, os pais de Mateus compartilham sua experiência, acompanhados de profissionais como delegados e psicólogos. Explicam os riscos, mostram casos, e falam com sinceridade: “Não somos especialistas, somos pais. Mas nossa dor precisa virar algo útil”.
A arma usada por Mateus estava guardada há mais de dez anos, como herança familiar, e infelizmente foi acessível no momento em que ele se viu sem saída. “Não foi acidente. Ele sabia manusear, gostava de esportes de tiro, tinha conhecimento. Foi algo decidido, em um momento de pânico, de desespero”, afirmou Thiago.
Apesar da dor irreparável, o casal diz que se fortalece na fé e no amor que deu ao filho. “Temos a consciência tranquila. Ele foi muito amado. Viveu com alegria. Tinha uma vida cheia, uma família presente. E isso nos consola”, conclui Joice.
A luta agora é por uma legislação mais firme, ações de prevenção, e sobretudo, diálogo entre pais e filhos. O casal pensa em fundar uma associação, quem sabe até criar o “Dia de Conscientização sobre Crimes Cibernéticos”, inspirado no legado de Mateus.
“Se nossa fala conseguir salvar uma vida, já terá valido a pena”, diz Tiago. “Porque a vida do nosso filho, apesar de curta, foi profundamente significativa. E é por ele que vamos continuar falando.”