
Pouco mais de um mês após assumir o comando da Cotribá, o novo CEO, Luís Felipe Maldaner, apresentou um diagnóstico sobre a situação financeira da cooperativa de 114 anos.
O levantamento inicial aponta um passivo de R$ 1,4 bilhão. Para reverter o quadro, a nova gestão focará na venda de ativos (desimobilização) para pagar dívidas com produtores, sem recorrer a novos financiamentos.
Segundo Maldaner, indicado ao cargo pelo Conselho de Administração, a crise foi precipitada por uma combinação de fatores. O principal foi a "expansão territorial acelerada" para fora da base original da cooperativa, somada a uma sequência de cinco anos de eventos climáticos adversos.
“O aumento da geografia foi muito rápido, ampliando várias unidades fora da nossa região de origem. Somado a isso, tivemos três anos seguidos de seca e agora uma cheia. Isso agravou a situação”, explicou o executivo. Ele também citou a alta das taxas de juros como um fator que reduziu as margens de operação e aumentou o custo dos financiamentos.
O novo CEO reconheceu que os investimentos feitos nas novas unidades não trouxeram o retorno esperado.
“Numa expansão desse porte, o ideal é avançar aos poucos. [...] Fazer três ou quatro ao mesmo tempo é um risco estratégico grande”, avaliou Maldaner, cuja contratação visou trazer um olhar técnico e resolutivo.
Plano de ação
A principal medida em andamento é a venda de ativos e unidades que não integram o núcleo estratégico da Cotribá. Os recursos obtidos, segundo o CEO, estão sendo usados para pagar dívidas com produtores rurais.
“Já conseguimos vender algumas unidades e o valor foi diretamente para o produtor. A ideia é continuar nesse formato, porque a operação bancária hoje, com juros elevados, inviabiliza novos empréstimos”, afirmou. Maldaner informou que cerca de 14 fornecedores de grande importância para os negócios da Cotribá já renegociaram contratos com a cooperativa, em prazos de cinco anos e com um ano de carência. Dessa maneira a cooperativa voltou a ter acesso aos produtos e poderá revendê-los aos clientes, mantendo negócios com produtores.
O plano prevê ainda uma reorganização administrativa interna e a criação de unidades de negócio independentes (como grãos, rações, mercados e fertilizantes), visando identificar com clareza a rentabilidade de cada segmento. “Queremos saber onde estão as margens e fortalecer o que dá resultado para gerar capital de giro”, explicou.
Apesar do passivo, Maldaner afirmou que a Cotribá possui ativos de valor, destacando a participação de 13% na CCGL, considerada estratégica. “Essa participação tem um valuation muito expressivo e cobre boa parte das dívidas”, garantiu.
Ele também esclareceu que a recuperação judicial não se aplica a cooperativas, sendo a “liquidação extrajudicial” o único instrumento jurídico possível — hipótese que, segundo ele, não está em cogitação.
Para o futuro, a estratégia é encolher para fortalecer. “A Cotribá precisa voltar à sua geografia original, aqui na nossa região. Talvez com um tamanho menor, mas mais sólida, com os pés fincados onde nasceu”, defendeu. “Não há mágica, há trabalho. Estamos enfrentando os problemas um a um”, finalizou o CEO.





















