
Jornalista catarinense transformou a vida no campo em um dos maiores canais de agro do mundo. Com mais de 1,5 milhão de seguidores, Aline é hoje uma das comunicadoras mais admiradas do agronegócio brasileiro.
A sombra de um pé de tangerina foi o cenário dos primeiros sonhos de uma menina do interior de Santa Catarina. Ali, no quintal da casa dos pais, na comunidade de Aurora, nascia a inspiração para o que viria a ser um dos maiores fenômenos da comunicação no agronegócio brasileiro: o canal Vale Agrícola, comandado pela jornalista Aline Leonhardt.
“Quando eu era criança, subia naquele pé de tangerina e sonhava que estaria no maior programa de agricultura do país”, relembra Aline. “É curioso pensar que foi justamente daquele quintal que tirei inspiração para criar meu canal.”
Aline cresceu em meio à rotina da agricultura familiar. “Comecei a tirar leite com três ou quatro anos. Nem falava direito ainda”, conta entre risos. Mas sua verdadeira motivação estava nos gatos da propriedade: “Eu tirava leite num potinho só para dar para eles”.
Plantava cebola, colhia tabaco, ajudava com as vacas e ia a pé para a escola, enfrentando o frio do inverno catarinense. "A gente juntava as crianças e ia junto, mesmo com o chão coberto de geada", relembra com carinho.
Filha de Seu Haroldo e Dona Thaís, Aline foi incentivada a estudar. Apesar das dificuldades — como o ano em que a família perdeu tudo para o granizo — ela ingressou na faculdade. “Foi muito difícil. A gente lutou com o que pôde, até com o que não podia”, diz a mãe, emocionada. O pai recorda o momento em que a filha decidiu cursar Jornalismo, contrariando as expectativas: “Eu dizia: ‘Mas o que vai fazer com isso aqui na região?’. Hoje vejo que foi a melhor decisão que ela poderia ter tomado”.
O canal Vale Agrícola nasceu da insistência e da visão de futuro de Aline. “Naquela época, trabalhar com internet era sinônimo de preguiça. E fazer jornalismo para a internet então? Era loucura”, lembra. “Mas eu via o potencial das redes sociais e acreditava que podia alcançar um público maior do que muitos canais de TV.”
E ela estava certa. Hoje, o canal Vale Agrícola soma 798 mil inscritos no YouTube, 1,5 milhão de seguidores no Facebook e 321 mil seguidores no Instagram, com mais de 3.100 vídeos publicados. O conteúdo, autêntico e enraizado na realidade do campo, conquistou seguidores em todo o Brasil.
“Eu sempre senti que os agricultores não eram representados da forma certa”, explica. “O Vale Agrícola veio para mostrar a vida simples, a vida real do produtor, como a dos meus pais, meus avós. Eles são minha maior inspiração.”
A conexão com o interior também passou por terras gaúchas. Aline já esteve no município de Quinze de Novembro, onde gravou reportagens que se tornaram sucesso no canal, como o Sítio das Aves, a Tenda Rural e a inspiradora história de um casal que fabrica brinquedos de madeira com produção artesanal. “É sempre gratificante voltar a comunidades que valorizam suas raízes”, comentou.
Além de mostrar tecnologias, feiras e entrevistas com especialistas, o programa valoriza a sabedoria popular e o cotidiano do agricultor. “A gente comunica da roça, não de um escritório. Isso faz toda a diferença”, afirma Aline.
A autenticidade de Aline também se reflete no orgulho com que assume sua origem. “Uma das coisas que mais me doeu na vida foi ser chamada de colona, de pé rachado. Hoje, digo com muito orgulho: sou colona, agricultora e comunicadora do agro.”
Com uma indicação ao prêmio dos +Admirados da Imprensa do Agronegócio e celebrando quatro anos de programa, o Vale Agrícola segue como uma ponte entre o campo e a cidade, entre o passado e o futuro do setor. Para Aline, o maior desafio agora é romper preconceitos. “Todo mundo depende da agricultura, mas ainda ouvimos muita besteira sobre o tema. É preciso mostrar que o agricultor é um pequeno empresário, um gestor do seu negócio. E essa imagem precisa mudar.”
Ela segue em frente, com a mesma determinação da menina que subia no pé de tangerina. “Sou valente, sim. E se é para comunicar sobre a vida no campo, que seja com orgulho e com verdade.”