Em meio ao verde das plantações e à tranquilidade do campo, encontramos Arlindo Bohtz, um colono que dedicou 78 anos à vida na roça. Nascido em 1946, em Ibirubá, Arlindo é um exemplo vivo de resiliência e amor pela terra.
Arlindo cresceu na propriedade da família, situada na Linha Duas. Aos 15 anos, após a morte do pai, ele assumiu a responsabilidade de cuidar da propriedade junto com a mãe. "Tive que assumir a propriedade muito cedo, ajudando minha mãe e minhas irmãs", relembra. Naquela época, a vida no campo era desafiadora. As plantações de milho, mandioca e feijão eram essenciais para a sobrevivência, e o trabalho era pesado. "Tudo era feito na base da enxada, com muito esforço físico", conta. A mecanização era um sonho distante, e a comunidade, em especial as numerosas famílias, se uniam para abrir matas e preparar a terra para o cultivo.
A transformação na vida de Arlindo começou em 1971, quando ele e seu cunhado compraram o primeiro trator. "Compramos um trator financiado pelo banco, mesmo com muito mato para limpar. Era um grande avanço para nós", diz Arlindo. Com o tempo, a propriedade foi se modernizando, mas as lembranças do trabalho árduo permanecem vivas.
Arlindo lembra-se com carinho das primeiras colheitas de soja, um cultivo que começou a ganhar espaço na região na década de 1970. "A soja era plantada junto com o milho, e tudo era colhido manualmente. Era um trabalho duro, mas gratificante", comenta.
Além do trabalho no campo, Arlindo foi um dos fundadores da Sociedade Unidos, em 1996. "Organizamos a sociedade para fortalecer a comunidade. Fui presidente por 13 anos e ajudei a construir o pavilhão que usamos até hoje para eventos e festas", orgulha-se.
Hoje, Arlindo ainda mora na propriedade da família, junto com sua esposa, duas filhas e um genro. A rotina diária inclui o cuidado com 40 vacas leiteiras, que produzem cerca de 700 litros de leite por dia. "A produção de leite é fundamental para nossa subsistência. Ainda plantamos milho para a silagem e mantemos uma horta para o consumo da família", explica.
Apesar dos avanços tecnológicos e da mecanização, Arlindo mantém viva a tradição da agricultura familiar. "Ainda uso uma ''pec-pec'' (plantadeira manual) para plantar feijão e mantenho práticas antigas que aprendi com meu pai", revela.
Arlindo observa com nostalgia e orgulho as mudanças em Ibirubá. "A cidade cresceu muito. Quando eu era jovem, as ruas eram de terra, e tudo era mais simples. Hoje, temos asfalto, transporte escolar e tecnologia, mas a essência do trabalho no campo permanece a mesma", reflete.
Para Arlindo, a vida no campo sempre foi uma escolha. "Muitos me perguntam por que não mudei para a cidade, mas a tranquilidade do campo é insubstituível. Aqui é meu lugar, onde construí minha vida e minha família", conclui com um sorriso.