21 de Novembro, 2025 08h11mEntrevistas por Clóvis Messerchmidt- Revista Enfoque

A casa que transforma a história de Alfredo Brenner em permanência

O imóvel que já abrigou o subprefeito e delegado Carlos Amaral — e cujo porão funcionou como cadeia

Residência de quase 90 anos, na rua principal do distrito de Ibirubá, já serviu de moradia para o subprefeito e delegado Carlos Amaral, que usava o porão como cadeia, e hoje é lar de dona Marilene Rohr Floss, guardiã da história da família e da comunidade.

A senhora Marilene Rohr Floss, de 68 anos, é agricultora, natural do Distrito Alfredo Brenner, em Ibirubá (RS). Viúva de Nei Luiz Floss, é mãe de dois filhos, Rubens e Rafael, e avó de dois netos, Otto e Bento. “Sou Rohr de casa”, diz ela, sorrindo, ao contar que mora definitivamente na residência atual há cinco anos, desde o falecimento da mãe. “Mas desde 2000, quando o meu pai comprou aqui e veio morar, eu sempre vinha fazer serviço pra minha mãe. Morava lá em cima, e agora o meu filho ficou lá. Quando ela faleceu, eu fiquei aqui. Ganhei esta casa de herança”, relata. 
A casa de Marilene está localizada na rua principal do Distrito e guarda uma trajetória ligada à própria história da comunidade. Ao longo de várias décadas, teve diversos inquilinos, entre eles o então subprefeito e delegado Carlos Perugino de Mello, mais conhecido como Carlos Amaral, já falecido, que morou ali na década de 1940 e chegou a utilizar o porão da casa como cadeia.
Seus saudosos pais, Eleonora e José Eugênio Rohr, deixaram não só lembranças, mas também uma história que remonta às origens do lugar. “As famílias deles são daqui mesmo, mas quem construiu esta casa foi o vô da minha mãe, o Davi Lindenmeyer, e a esposa dele, Júlia Lindenmeyer”, conta. A casa, segundo ela, tem quase 90 anos. “Meu pai dizia que, quando começou a ir pra escola, estavam fazendo a casa. Ele faleceu em 2014 e hoje teria 94 anos.”
A residência chama atenção pela altura e pela estrutura sólida. “É uma casa alta. A parte original era só a frente. Quando meu pai veio morar aqui, ele fez uma ampliação para os fundos”, explica. Hoje, o imóvel conta com dois quartos, duas salas, cozinha, garagem, lavanderia, banheiro, varandas na frente e nos fundos, além de um porão. “Ela parece maior porque é repartida em duas partes, em cima e embaixo. O porão era habitável, já teve moradores. Agora uso pra guardar minhas coisas.” Antes, havia atrás apenas um puxadinho de madeira com banheiro. Depois, o pai construiu a parte nova, com lavanderia e garagem. “Mas 90 anos ela tem, isso é certo, pelo cálculo do meu pai.”
Viúva há 35 anos, Marilene vive sozinha, mas sob o olhar de um dos filhos, que mora perto. “Meu marido faleceu com 34 anos, ele teve derrame cerebral. Tivemos dois guris: um mora aqui na vila, na minha antiga casa, e o outro em Uruguaiana.” A casa em que vive hoje, no entanto, guarda memórias antigas da família. “Meu avô construiu pra uma filha dele, a tia Frida, que era solteira. Ela morou pouco tempo e, depois que os pais faleceram, foi morar com a irmã. A moradia passou a ser alugada. Depois ninguém mais pagava o IPTU, e uma prima da minha mãe, do lado dos Lindenmeyer, a Cecília Dilly, legalizou tudo e vendeu a casa pro meu pai, no ano 2000.”
A vida em Alfredo Brenner, segundo dona Marilene, é tranquila. “Aqui é bom de morar. Tenho bons vizinhos. A subprefeitura ainda funciona: o correio e o pagamento da água ficam ali com a dona Neila, que é responsável há bastante tempo. Ela é aposentada, mas continua ajudando.” Antes, diz ela, havia mais movimento. “Antigamente era melhor, quando tinha o cartório ali. Agora tá tudo informatizado, fica mais difícil manter.”
A vila já teve mais comércio. “Antes tinha mercadinho, lojas e até banco. Agora, com o asfalto chegando, vai melhorar. O asfalto traz progresso, começa a abrir mais negócios, vem mais moradores.” Ela elogia a nova estrada, a ERS 506. “Tá muito bonito. Dizem que vai continuar, mas se passar por lá, corta minha chácara”, comenta, rindo. “Mas o progresso tem que vir. Se não fosse o asfalto, não teria movimento. Antes era muito barro. Quando minha mãe estava doente, eu nem dirigia na estrada molhada, tinha que pedir pros outros. Agora dá pra ir tranquila, é uma facilidade enorme. Tem também a empresa Maisner Tratores e o Padel do Elias Maisner, que movimentam a vila.”
Serena, ela diz não ter grandes planos. “Por enquanto, não. Pretendo ficar aqui o resto da vida.” Orgulha-se do jardim que cultiva com simplicidade. “A mãe dizia que não é organizado, mas ela também plantava tudo misturado, e eu continuei assim. Fica colorido, dá alegria.” A casa, pintada recentemente, ganhou nova vida. “Antes era verde. Uma professora me disse: ‘Muda de cor, tem tanto verde em volta!’”, conta, rindo. “Aí mudei. Meu pai sempre pintava de verde, depois de marrom com aberturas brancas. É casa de alvenaria, tijolo e cimento, mas acho que ainda tem partes com barro, das mais antigas.”
Entre lembranças, afetos e o orgulho de manter viva uma história de quase um século, dona Marilene segue cuidando da casa onde cresceu, agora como guardiã da memória de sua família e do próprio Distrito Alfredo Brenner.
 

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