
Em casa simples no bairro Progresso, a ex-merendeira Eraci Schneider, a querida Tia Sissi, relembra as décadas de dedicação à escola que marcou gerações em Ibirubá.
Na rua Bahia, número 525, no bairro Progresso em Ibirubá, vive Eraci Schneider, mais conhecida como Tia Sissi — nome que desperta lembranças carinhosas em incontáveis ex-alunos da Escola Estadual de Ensino Médio General Osório. Merendeira por três décadas, ela fez mais do que alimentar: acolheu, escutou e marcou vidas.
“Eu vim morar na cidade com 18 anos, depois de casar. Moramos em vários bairros até construirmos essa casa aqui, com nossas próprias mãos”, relembra Tia Sissi, com orgulho visível. “Foi sofrido, mas muito gratificante.”
O início no colégio foi por acaso. Ela levava o filho Marcelo ao pré-escolar, mas ele só aceitava ficar se ela permanecesse na escola. “Comecei ajudando a Noeli, que era merendeira na época. Um dia comentei que gostaria de trabalhar. Quando surgiu a vaga, fui chamada pela prefeitura”, conta.
Após breve passagem pela creche, Sissi foi efetivada no “ginásio” — como era conhecido o General Osório. Lá, passou a integrar a equipe da cozinha, primeiro pela prefeitura, depois pelo Estado, onde se tornou servente e merendeira.
“Era muito trabalho: cozinhar, servir, limpar refeitório, limpar salas de aula. Mas sempre com alegria e união com os colegas”, destaca.
Entre os nomes que marcaram sua trajetória, ela lembra com carinho das companheiras de trabalho: Teresa Bairros, Lourdes do Getúlio, Eva da Silva e Alice Lorenzoni. “Trabalhávamos em sintonia. Cada uma sabia seu papel e nos apoiávamos.”
A cozinha era também espaço de escuta. “Às vezes, éramos mãe, tia, psicóloga. As gurias vinham desabafar. Eu dava um chazinho e escutava. Era muito importante para eles”, conta. “Mesmo os que tinham comida em casa amavam a merenda. O carinho vinha junto com o prato.”
Sissi recorda das fases da merenda escolar: no início, com produtos do governo federal — sopas prontas, leite em pó, bolacha Maria — e depois com melhorias quando o cardápio passou a ser elaborado por nutricionistas e pelas próprias merendeiras. “Fazíamos galinhada, polenta com molho, arroz doce, salada de repolho com cenoura. Era tudo preparado com muito amor.”
O vínculo com os alunos se estendia além da escola. “Quando o ensino médio ia para a praia, eu ia junto para cozinhar. Eles não deixavam a gente dormir de noite de tanta bagunça, mas era divertido!”, relembra, rindo.
Fotos antigas ajudam a reconstituir momentos vividos na cozinha e no saguão do colégio. “Fui madrinha de várias turmas do prezinho. Ainda tenho uma foto de 2007 que guardo com carinho.”
Tia Sissi trabalhou sob a gestão de várias diretoras: Gelci Ribas, Vanda Saft, Beth Baggio, Margot Karst Daruy, Viviane Kanitz e Denise Kunz. Ela acompanhou as mudanças estruturais e pedagógicas da escola, mas afirma:
“O carinho dos alunos sempre foi o mesmo.”
Hoje aposentada, leva uma vida ativa e feliz. “Faço pilates, ginástica, participo dos bailinhos, vou ao centro espírita, encontro amigas para chimarrão. Faço o que gosto e sou grata a Deus por tudo.”
Para muitos, ela foi uma figura materna na escola. Para ela, os alunos foram sua “filharada”. “Onde eu vou, sempre tem alguém que me reconhece. Dizem: ‘Tia, eu adorava sua galinhada!’ Não tem dinheiro que pague esse carinho.”
Com voz serena e olhos que brilham ao lembrar do passado, Tia Sissi resume a essência do que fez por 30 anos: “Mais do que comida, a gente servia afeto.”