
Com origem humilde e valores sólidos herdados da família, Carlos Waldemar Wilke Diehl saiu de Ibirubá para conquistar formações de excelência, experiências profissionais globais e um retorno consciente às raízes. Ex-funcionário da Petrobras e da japonesa Modec, ele hoje atua no agronegócio com foco em inovação e sustentabilidade, sendo também liderança no Conselho de Administração da Cotribá.
Na oficina do pai, ele sujava as mãos de graxa e os olhos de sonho. Observava motores desmontados como quem decifrava mistérios e ouvia, entre martelos e soldas, as primeiras lições de vida. Filho de mecânico, nascido em Ibirubá, Carlos Wilke Diehl cresceu com o ouvido atento à voz da mãe: “A única herança que podemos te dar é o estudo.” Essa frase, dita quando ele tinha apenas 12 anos, fincou raízes profundas e o impulsionou por caminhos que o levariam a conquistar duas engenharias, passar em concursos disputados, trabalhar em plataformas de petróleo no Brasil e no exterior, morar no Japão e, décadas depois, aplicar tecnologia de ponta no agronegócio da mesma terra onde tudo começou.
Hoje, Carlos é muito mais do que um engenheiro de sucesso. É pai dedicado, agricultor inovador, liderança cooperativista e um entusiasta da conectividade como ferramenta para transformar o campo. Mas, acima de tudo, é prova viva de que grandes histórias podem nascer em oficinas pequenas — e de que os sonhos mais audaciosos podem ser cultivados com as sementes da educação e da persistência.
Com o ensino médio cursado em Cruz Alta — pois Ibirubá ainda não oferecia segundo grau —, foi aprovado na UFRGS para Engenharia Metalúrgica, ficando entre os 30 primeiros colocados num vestibular altamente concorrido. No mesmo ano concluiu também o curso de Engenharia Mecânica, oferecido pela Universidade Petrobras, em paralelo à sua graduação. Carlos estudou três turnos direto pelo período de um ano.
Em 1981, iniciou a trajetória na Petrobras, atuando no Polo Petroquímico de Triunfo. Depois de anos de dedicação, foi selecionado para uma pós-graduação no Japão, bancada pelo governo japonês. “Foram dez selecionados no mundo, um por país. Não sei quais foram os critérios, mas fui, estudei, vivi, aprendi.” No Japão, Carlos estudava em tempo integral durante o dia e, por conta própria, aprendia japonês à noite. "Aprender a ler os caracteres era uma questão de sobrevivência. Mas também de respeito com a cultura que me acolheu.”
De volta ao Brasil, sua experiência e fluência no idioma japonês abriram portas na empresa Modec, especializada na construção e operação de plataformas de petróleo offshore. Como executivo, participou da estruturação de contratos, redução de custos e melhoria de resultados operacionais, inclusive em unidades deficitárias. “Com apoio da equipe e ouvindo quem realmente entende — o chão de fábrica —, conseguimos transformar prejuízo em lucro.”
Carlos ainda viveu experiências em Gana, Costa do Marfim e Singapura, sempre expandindo horizontes. Mas foi em um gesto simples que revelou o quanto os valores familiares continuavam norteando sua vida: ao recusar dois dias em Dubai oferecidos por uma companhia aérea, correu para o Brasil a tempo de assistir à primeira apresentação da filha mais nova, Maria Eduarda, então com 5 anos de idade. “Viajar eu poderia a qualquer momento. Mas aquilo, ali, era único.”
Casado com Cláudia Willrich Klein, Carlos é pai de cinco filhos — todos com formação superior. Seu filho é engenheiro da Petrobras, uma filha é engenheira metalurgista na SBM, outra é psicóloga, outra formada em Administração e a caçula, a talentosa pianista Duda, ainda trilha seus caminhos. “Sempre repito pra ela: ‘Ainda bem que você nasceu’. Isso diz tudo.”
De volta a Ibirubá, Carlos decidiu investir em sua paixão: o agronegócio. Com áreas próprias irrigadas por quatro pivôs, ele implementa o que chama de “agricultura 5.0”, baseada na conectividade e no uso inteligente dos dados. “Não adianta só coletar informação. É preciso conectividade em tempo real. Colocar internet só no galpão não basta. O produtor precisa de sinal na lavoura.”
No campo, ele fala em monitorar máquinas em tempo real, acompanhar rendimento por hectare e emitir nota fiscal eletrônica direto do talhão. “O futuro do agro está no sinal, na conectividade rural de verdade.”
Carlos também atua como conselheiro de administração da Cotribá, cooperativa da qual é associado desde 1986. Diante das dificuldades recentes enfrentadas pela cooperativa — especialmente após a disseminação de fake news que geraram corridas por saques —, ele defende a transparência e o compromisso da atual gestão com os associados. “A Cotribá não está quebrada. O que houve foi uma corrida gerada por desinformação, numa estrutura que tem patrimônio, tem ativos e está em processo de retomada.”
Ao longo de mais de uma hora de entrevista, Carlos mostrou domínio técnico, visão estratégica e uma memória afetiva profunda com Ibirubá. Mas foi no fim, com simplicidade, que deixou a mensagem mais poderosa:
“Desistir é fácil. Muito fácil. Mas persistir… é isso que faz a diferença. Eu sou a prova de que o estudo muda vidas. E se minha história puder inspirar um jovem que esteja nos ouvindo, então já valeu a pena.”