
Em entrevista ao programa Baú do Esporte, João Carlos José dos Reis emocionou ao relembrar sua trajetória nos gramados, nas quadras e na vida como oficial de justiça. Com 65 anos, ele segue sendo uma lenda viva do esporte local.
No estúdio da Rádio Cidade, o tempo pareceu parar. João Carlos José dos Reis — o famoso Pelezinho — resgatou capítulos da história esportiva de Ibirubá e compartilhou o que só quem viveu sabe contar. Aos 65 anos, ele não é apenas uma figura querida do esporte, mas também um servidor público respeitado. Pelezinho entrou no estúdio como quem volta ao campinho da infância. Abraçou Andrei, trocou piadas com Camargo e olhou ao redor como se reconhecesse ali antigos companheiros de time. Não era a primeira vez no programa, mas era especial. O convite foi aceito com emoção, depois de um susto recente com a saúde.
“Até hoje de manhã eu tava meio nervoso. A garganta arranhando, eu disse: ‘Ah, só falta me dar gripe e eu não poder vir’. Mas tomei um café quentinho cedo e espantei isso aí. Não podia faltar!”, disse, arrancando sorrisos logo no início.
Natural da Vila Seca, filho de Henrique Guilherme dos Reis e Clotilde Pimentel dos Reis, João Carlos cresceu no interior de Ibirubá, jogando bola e aprendendo a viver em família numerosa. “Perdi meu pai com 11 anos. A mãe, já com 23. Aí veio a Nina, que virou a mãezona de todos'', reflete. No campo, Pelezinho começou no 14 de Julho, depois vestiu as camisas do Inconfidência, Florestal, Juventude, Vila Nova e outros. “Joguei minha primeira partida no campinho do Silo da Cesa. Era rústico”, contou.
Ele narra detalhes de jogos de 30, 40 anos atrás com quem parece ter vivido aquilo ontem. “Na varzea, em 87, fiz três gols na final contra o 25 de Julho. Foi o único título do Vila Nova. Aquilo valeu a carreira.”
Mas se a bola trouxe glórias, também trouxe dores. “Eu tava jogando, a bola veio e eu pisei em cima dela. Sozinho. Quase quebrei a perna. Terminei o jogo, mas na semana seguinte pensei: ‘É agora. Chega. Índio velho tem que saber a hora de parar’.”
Fora de campo, Pelezinho fez história como oficial de justiça
Há 27 anos João Carlos cumpre mandados no Fórum de Ibirubá. “É o longa manus do juiz. A gente leva a decisão. Já fiz busca de menor, medida protetiva, reintegração. Tem coisa que machuca. Mas também tem histórias que aliviam: teve um cara que eu fui tirar de casa e ele falou: ‘Nem precisa, eu já tava pensando em largar ela mesmo’. Pegou a mala e saiu!”
A profissão também trouxe riscos. “Teve vezes que fui sozinho em mandado perigoso. Já levei um empurrão. Mas agora melhorou. Hoje a gente consegue intimar por WhatsApp. Ajuda muito.”
A conversa seguiu por quase duas horas. Camargo e Andrei apenas puxavam o fio — e Pelezinho desenrolava as lembranças. Contou dos tempos de jogador rebelde, que fugia do treino físico. “Na hora da preparação física, sempre dava uma distensãozinha. Mas no coletivo, eu destruía”, riu.
Falou também da vida fora do esporte. Dos filhos, dos sobrinhos. Do apoio da esposa Renati Frielink: “Ela moveu mundos e fundos por mim quando fiquei doente. Se hoje tô aqui, é graças a ela.”
O estúdio foi tomado por mensagens. Jogadores, técnicos, torcedores. Um a um foram se manifestando. “Com Pelezinho em campo, não tinha placar em branco”, escreveu Mauro Constantino. “Foi meu treinador, uma lenda do esporte de Ibirubá”, lembrou Serginho. “Craque dentro e fora das quatro linhas”, disse Rodrigo Refatti.
Quando questionado sobre quem é o novo Pelezinho, ele respondeu sem hesitar: “Espero que seja meu sobrinho Eduardo Ferreira dos Reis. E o Davi, filho do Leandro e da Amanda, tá sempre jogando comigo. O futuro tá aí.”
Já perto do fim, Pelé olhou para a câmera, pensativo, e disse com um sorriso: “É, gente… o tempo passou. Hoje, passo na rua e me chamam de Pelé Velho. Mas tudo bem. Porque se é pra envelhecer, que seja com história.”