
Com perdas históricas na colheita da soja e um endividamento rural que ultrapassa R$ 72 bilhões, agricultores do Rio Grande do Sul enfrentam uma crise sem precedentes. Em entrevista ao OAJ, o presidente da Aprosoja-RS e suplente de senador, Ireneu Orth, expõe o cenário e cobra ações efetivas do governo federal.
A colheita da soja está praticamente finalizada no Rio Grande do Sul, mas o que era para ser um período de alívio transformou-se em um dos momentos mais difíceis para o setor agrícola do estado. “A média estadual ficou pouco acima de 30 sacas por hectare, quando o esperado era entre 60 e 70. Isso compromete completamente o financeiro da maioria dos agricultores”, lamenta Ireneu Orth, presidente da Aprosoja-RS.
Segundo dados da Farsul, a inadimplência rural no estado já supera R$ 1,2 bilhão, com uma dívida acumulada que ultrapassa os R$ 72 bilhões. Orth relata que muitos produtores estão negativados e sem acesso ao crédito. “Se essas pessoas não tiverem seus nomes limpos, não vamos conseguir plantar todas as lavouras. Ou vão plantar sem tecnologia, o que reduz drasticamente a produtividade, mesmo com clima favorável”, alerta.
Diante da situação, o setor clama por ações imediatas do governo federal. Uma das principais apostas é o Projeto de Lei 320 no Senado (e seu correspondente 341 na Câmara), que prevê o alongamento das dívidas rurais e a criação de mecanismos de proteção ao setor produtivo. Orth detalha: “Esse projeto foi idealizado pela Aprosoja com apoio do senador Luiz Carlos Heinze. Ele propõe alongamento da dívida em até 20 anos, criação de um fundo garantidor com participação dos próprios produtores e priorização de investimentos em irrigação e recuperação de solo.”
No entanto, o PL avança lentamente em Brasília. “Para ganhar urgência, são necessárias 33 assinaturas no Senado. Mesmo assim, ainda precisa passar pela Comissão de Agricultura, depois pela CCJ e finalmente pelo plenário. E tudo isso em ambas as Casas”, explica Orth, demonstrando frustração com a lentidão do processo.
Paralelamente ao trâmite legislativo, lideranças gaúchas têm pressionado o governo para que autorize, via Conselho Monetário Nacional, a prorrogação das dívidas por até quatro anos. “A promessa é de que a resolução saia nesta semana. Isso é o mínimo para aliviar o curto prazo, mas não resolve a situação estrutural”, destaca.
Orth também critica a postura do governo federal, que, segundo ele, se recusa a reconhecer a gravidade da crise por considerar os bons números da safra nacional. “Eles dizem que o país colheu 166 milhões de toneladas de soja este ano, um aumento de 13,6%. E não enxergam que o Rio Grande do Sul teve perdas severas por quatro safras seguidas. Isso é injusto”, desabafa.
A união das entidades do agro gaúcho, como Farsul, Fetag, cooperativas e movimentos como o SOS Agro, é apontada como ponto positivo. O próprio governador Eduardo Leite, afirma Orth, tem tentado interceder junto ao governo federal, apesar de relatar dificuldades em ser recebido. “A Assembleia Legislativa está unida, mas quem vota é o Congresso. E precisamos da sensibilidade dos parlamentares de outros estados, especialmente do Nordeste, que muitas vezes não se envolvem com a causa.”
Para Orth, é essencial que os produtores formalizem seus pedidos de prorrogação nas agências bancárias antes dos vencimentos. “Se deixar vencer, complica ainda mais a negociação. O agricultor precisa fazer um laudo, um documento técnico. Isso ajuda a pressionar em Brasília, mostrando que há necessidade real.”
Por fim, Orth pede que o país reconheça a importância do setor primário. “O Brasil tem gastado bilhões com pautas irrelevantes. E quando se trata de salvar a galinha dos ovos de ouro, que é a agricultura, vira um problema. Isso é inaceitável.”