01 de Agosto, 2025 09h08mAgronegócio por Jardel Schemmer- Repórter Rádio Cidade 104.9

Vazio sanitário da soja e os desafios da agricultura na região do Alto Jacuí

Engenheiro agrônomo Anildo Carboni analisa impactos da crise climática, perspectivas da nova safra

 Em Ibirubá, a expectativa recai sobre os 11 mil hectares de trigo plantados. Se o tempo colaborar, a colheita pode garantir fôlego até a próxima safra de verão.

O vazio sanitário da soja, um período obrigatório sem cultivo da oleaginosa, tem papel fundamental no controle da ferrugem asiática e, consequentemente, na preservação da produtividade da próxima safra. Em entrevista ao Jornal O Alto Jacuí, o engenheiro agrônomo Anildo Carboni abordou não apenas os aspectos técnicos dessa fase, mas também o contexto desafiador enfrentado por agricultores da região de Ibirubá, Selbach e Tapera.
“Estamos passando por uma crise que há muito tempo não se via”, afirmou Carboni, que atua há 27 anos na agricultura regional. “Nos últimos cinco anos, tivemos quatro frustrações de safra por causa do clima: seca ou excesso de chuva. O produtor está desanimado, porque mesmo com tecnologia e investimento, o clima não perdoa”.
Carboni reforça que o vazio sanitário é uma das principais ferramentas de proteção contra pragas e doenças.

“Esse período impede que plantas guachas, que nascem espontaneamente fora de época, sirvam de abrigo para doenças como a ferrugem. Se a geada não vem para eliminar essas plantas, temos que agir com manejo. Caso contrário, compromete toda a safra”, alertou.

Além da preocupação fitossanitária, a escassez de crédito também aflige os agricultores. “Mesmo com um Plano Safra maior, não adianta ter bilhões disponíveis se os bancos não têm dinheiro ou não liberam o crédito. E ainda com juros mais altos”, destacou. Segundo ele, o cenário atual exige mais do que resiliência: é necessário planejamento estratégico e reestruturação de dívidas para sobreviver ao novo ciclo.
Outro ponto discutido foi a importância da cobertura do solo. “Com chuvas de 400 mm em 15 dias, o solo sem cobertura perde nutrientes e matéria orgânica. Uma solução simples, como plantar aveia ou nabo após a colheita, ajuda a conservar o solo e reduz os custos com adubação futura”, explicou.
Sobre a recuperação financeira do setor, Carboni é cauteloso: “Se os próximos sete anos forem de boas colheitas, com 50 sacos por hectare, o produtor consegue se reequilibrar. Mas a conta é grande. O ideal seria termos um ciclo positivo e renegociação das dívidas antigas com apoio do governo”.
Com relação à sucessão no campo, o agrônomo também se mostrou preocupado: “O maior gargalo que teremos nos próximos anos será a falta de mão de obra. Os filhos dos produtores não querem mais ficar no campo. As propriedades estão sendo arrendadas ou vendidas. Isso muda toda a estrutura da produção rural”.
Mesmo com as incertezas climáticas e econômicas, Carboni vê na diversificação de culturas uma das saídas para amenizar riscos. “Apostar só na soja é perigoso. Plantar trigo, canola, milho, mesmo que em menor escala, pode garantir uma receita intermediária. Mas, de novo, isso exige planejamento, assistência técnica e crédito”, ponderou.
Sobre a atual safra de inverno, a expectativa é moderada. Segundo levantamento do IBGE, Ibirubá plantou cerca de 11 mil hectares de trigo e 2 mil de canola. “A canola sofreu com o excesso de chuva e falta de sol. Já o trigo, se não pegar chuva em setembro, pode ter uma boa colheita”, estimou Carboni.
Ao final da conversa, o engenheiro reforçou a necessidade de otimismo e persistência. “Apesar das dificuldades, o produtor da nossa região é guerreiro. A gente brinca, leva no bom humor, mas seguimos firmes. Se o tempo ajudar e o governo fizer sua parte, a roda volta a girar”, concluiu.

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