
Com 25 internações por SRAG e dois óbitos por influenza registrados apenas nos primeiros meses de 2025, Ibirubá acompanha com preocupação o avanço das doenças respiratórias que já levaram o Rio Grande do Sul a decretar emergência em saúde pública. A pediatria e a atenção aos grupos vulneráveis são os setores mais pressionados.
chegada do frio no Alto Jacuí trouxe com ele mais do que geada nas manhãs: trouxe também um cenário de preocupação crescente nas unidades de saúde. Em Ibirubá, só nos primeiros meses de 2025, 25 pessoas foram hospitalizadas por SRAG — sete delas em estado grave, precisando de suporte intensivo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Duas mortes por influenza já foram confirmadas, enquanto a rede hospitalar opera no limite.
“A circulação do vírus da influenza A e B está intensa, principalmente entre crianças e idosos. Temos surtos em escolas, lares de longa permanência e aumento expressivo nas internações. O dado mais preocupante é que quase 30% dos internados precisaram de UTI”, alerta o Dr. Etiani Messerschmidt, médico da Secretaria de Saúde de Ibirubá.
O quadro local segue a tendência estadual. O Governo do Rio Grande do Sul decretou emergência em saúde pública após registrar 4.099 hospitalizações por SRAG e 305 óbitos, incluindo 10 mortes de crianças menores de cinco anos. As principais causas são a influenza, o vírus sincicial respiratório (VSR) e, em menor escala, a covid-19.
Em Ibirubá, a situação é agravada pela ausência de leitos de UTI pediátrica e neonatal na região. “Muitas vezes precisamos transferir pacientes para Santa Maria, Porto Alegre ou Uruguaiana. Isso significa longas esperas por vaga e risco elevado de desfecho fatal. O tempo entre a necessidade e o acesso ao suporte avançado pode ser decisivo”, explica o médico.
Outro dado alarmante é a queda na procura pela vacinação contra a gripe. Mesmo com doses disponíveis gratuitamente em todas as unidades de saúde, os grupos de risco — idosos, crianças, gestantes e pessoas com comorbidades — têm aderido pouco à campanha. “A maioria das internações graves ocorre entre os não vacinados. A vacina não evita todos os casos, mas protege contra os vírus mais perigosos e reduz drasticamente as chances de agravamento”, destaca Dr. Etiani.
Segundo o médico, a vacina da gripe disponível no SUS é trivalente, atualizada anualmente com os sorotipos com maior risco epidemiológico. “Ela não causa gripe, pois é feita com vírus inativado. Em alguns casos, a pessoa pode ter sintomas leves após a aplicação, mas isso é uma resposta imunológica normal. A vacinação é segura, eficaz e essencial para controlar a propagação do vírus.”
Além da influenza, o município enfrenta uma série de quadros respiratórios associados à bronquiolite, principalmente em bebês com menos de seis meses. “Temos crianças de Ibirubá internadas em outros municípios com bronquiolite causada por VSR. Já existe vacina contra esse vírus, que deverá ser disponibilizada pelo SUS para recém-nascidos em breve”, afirmou.
Dr. Etiani também chama atenção para as doenças alérgicas e a descompensação de quadros crônicos, como asma e rinite, intensificadas pelas oscilações de temperatura, umidade e ambiente fechado. “Muitas residências estão com bolor, fungos visíveis nas paredes e pouca ventilação. Isso agrava ainda mais a saúde respiratória, especialmente em pacientes já sensibilizados.”
A Secretaria de Saúde de Ibirubá estuda novas estratégias para lidar com o aumento da demanda. “Estamos sobrecarregados. O hospital está lotado, os plantões noturnos e de final de semana têm filas longas e estamos preparando medidas emergenciais para desafogar o atendimento, especialmente nas síndromes respiratórias”, adianta o médico.
Como medidas de prevenção, ele reforça a importância dos cuidados aprendidos durante a pandemia. “Evitar contato com pessoas doentes, usar máscara em ambientes fechados, lavar as mãos com frequência, não levar crianças doentes para a escola e manter os ambientes ventilados. São medidas simples que salvam vidas.”
No encerramento da entrevista, o médico deixou um recado direto à comunidade:
“A influenza não é uma gripezinha. É uma doença sistêmica, que pode matar. Temos vacina, temos informação. Cabe à população buscar proteção enquanto ainda há tempo. O vírus já está circulando.”
A vacina contra a gripe está disponível nas unidades de saúde de Ibirubá para todas as faixas etárias, conforme liberação do Ministério da Saúde. A recomendação é vacinar-se o quanto antes, pois a imunização leva três a quatro semanas para garantir a proteção completa.