23 de Junho, 2025 14h06mBáu do Esporte por ANDREI GRAVE

Craque das quadras e das cucas: Xororó revela memórias e conquistas nas quadras e gramados

Foi jogando pelo Cristal que conheceu Luíse Budke Bourscheid, com quem é casado até hoje

Vagner Flores é conhecido por muitos nomes. Em Santiago, sua cidade natal, era o Dentinho. Em Fortaleza dos Valos, o Nenê. Mas foi em Ibirubá que recebeu o apelido que se tornou marca registrada: Xororó. O nome surgiu durante o trabalho na indústria Vence Tudo, batizado por um colega que o achava parecido com o cantor sertanejo. Desde então, o rótulo ficou — e o personagem também. Xororó não é só um apelido: é símbolo de uma trajetória cheia de dribles, conquistas e amizades.
Chegou em Ibirubá em 2009, por incentivo do irmão, em busca de emprego e novas oportunidades. Encontrou trabalho, fez amigos e logo foi convidado a jogar no futebol amador. “Nunca tinha jogado campo, só futsal. Me convidaram para o Triunfo, mas quem me segurou foi o pessoal do Cristal. No primeiro treino, fiz três gols. Já me botaram no time”, relembrou com bom humor.
A estreia no campo foi triunfante: gol de cabeça aos dois minutos de jogo contra o Atlético do Arroio Grande. “Ninguém me conhecia. Já virei ídolo ali mesmo”, conta entre risos. De lá para cá, foram dezenas de títulos, jogos memoráveis e histórias que se confundem com a memória afetiva do futebol regional.
No futsal, a habilidade vinha de berço. Jogava desde os oito anos nas quadras de cimento de Santiago, de pé descalço, até anoitecer.

“Voltava pra casa com os dedos arrebentados, dois dias depois tava colado de novo e jogando”, relembra.

Jogou na URI Santiago, em Caxias do Sul, e até na universidade da UCS, que disputava estaduais e torneios fortes. Mas foi em times das cidades de Quinze de Novembro, Selbach e Tapera que deixou seu legado no interior.
Ficou conhecido por gols improváveis — como o da semifinal em Fortaleza dos Valos, em que driblou todo o time adversário nos últimos segundos de jogo — e por sua leveza em campo. “Nunca fui de briga, nunca fui expulso novo. Sempre joguei por amizade, por paixão. O que fica é isso.”
Entre os jogos e troféus, Xororó conquistou algo ainda mais importante: uma família. Foi jogando pelo Cristal que conheceu Luíse Budke Bourscheid, com quem é casado até hoje. “Ela estava na arquibancada, com o irmão. Começamos a conversar ali mesmo. Esse foi meu maior título”, brinca. Com ela, construiu a Delícias Camponesas, pequena indústria familiar que hoje fornece merenda escolar para municípios da região e produtos coloniais para supermercados e eventos.
Orgulhoso pai de Gonçalo e Teodoro, de 8 e 3 anos, vê nos filhos a continuação de sua história no futebol. “Dormem com roupa de jogo, bola do lado. Um já joga na ASIF. É bonito ver isso.”
Mesmo com 39 anos e algumas lesões na bagagem — duas fraturas de perna e outras tantas histórias para contar — segue jogando pelos veteranos. O atual time é o Ananias Futebol, onde atua ao lado de amigos como Fio Maravilha, Marcelino e outros nomes conhecidos da várzea.
Xororó não ficou rico jogando futebol. Mas ganhou algo talvez mais valioso: o carinho de uma comunidade que o acolheu, o respeito dos colegas e a certeza de ter deixado um legado dentro e fora das quatro linhas. “Não me metia em encrenca, nunca joguei por maldade. Sempre fui pelo jogo limpo, pela parceria e pela alegria de estar com os amigos.”
Hoje, é referência no futebol local e também nos negócios. “Começamos vendendo cuca de porta em porta. Hoje entregamos em Cruz Alta, Passo Fundo, Santa Bárbara, e temos até funcionários. Tudo com muito esforço, tudo com honestidade.”
Para ele, o maior troféu é a memória viva que carrega em cada história, em cada sorriso que encontra na rua, em cada mensagem que chega pelo celular. “A gente não sabe se é destino ou não, mas vim parar aqui, fiz uma família, construí um negócio e tenho amigos verdadeiros. Isso é o que importa.”
 

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