25 de março, 2019 09h03m Entrevistas

A importância da educação sexual como forma de prevenção

A educação sexual dos pré-adolescentes e adolescentes está no centro do debate da sociedade, um grupo acredita que a educação sexual estimula os jovens a ter uma iniciação sexual precoce. Outro grupo, de médicos, profissionais da saúde, educadores e psicólogos acreditam que abordar a educação sexual em casa e nas escolas é importante para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e gravidez precoce, além do autoconhecimento do próprio corpo. Um tema polêmico nas últimas semanas foi a indicação do presidente Jair Bolsonaro em retirar e modificar conteúdos da Caderneta da Saúde, desenvolvido pelo Ministério da Saúde. A caderneta de saúde do adolescente traz informações sobre o desenvolvimento dos órgãos genitais, informações de como utilizar de forma correta o preservativo e sobre o desenvolvimento e mudanças do corpo que ocorrem na puberdade. Além disso, traz informações gerais sobre a saúde dos pré-adolescentes e adolescentes, de 10 a 19 anos, e é distribuída em postos de saúde para acompanhamento saúde dos jovens. Conversamos com a psicóloga Maria Eduarda Rossato Facco, ela é especialista em Psicologia da Criança e do Adolescente pela Unisinos, São Leopoldo/RS e nos trouxe informações como a educação sexual pode ser abordada de maneira adequada pelos pais ou cuidadores. OAJ - A partir de que idade os pais devem conversar sobre sexualidade? A idade é algo muito relativo varia de crianças para criança, adolescente a adolescente. A gente fala muito que criança não tem sexualidade, o que é um tabu falar sobre. Mas criança tem sexualidade, o bebê quando nasce tem aquele momento em que, quando a mãe faz um carinho no bracinho, na perninha do bebê são ativados centros de prazer no cérebro, o que será revivido na adolescência ou na puberdade. É importante salientar que a puberdade e adolescência não são a mesma coisa, pois podemos ver crianças com nove anos que menstruam, mas que não tem maturidade emocional e que ainda são crianças, mas já entraram na puberdade, ou seja, o corpo está pronto para a tarefa biológica da reprodução, mas o aparelho psíquico do indivíduo não. O momento ideal para abordar esse assunto é quando a própria criança ou adolescente mostra interesse, com questionamentos sobre o assunto. OAJ - Como podemos lidar no momento em que as crianças começam a descobrir seus próprios corpos? São os momentos que a criança não entende o que é esse processo , não vê como um ato sexual propriamente dito, a criança se toca porque a sensação é boa – e não há nada de errado nisso. Nesse momento os pais e cuidadores podem conversar sobre estas situações, da maneira que julgar correto, e, em casos que apresentem maior dificuldade procurar um psicólogo, pediatra ou hebiatra. Sempre abordando de maneira a não reprimir, mas alertando quais os locais apropriados e momento em que se pode fazer. Pois a sexualidade é algo instintivo, os seres vivos nascem para reprodução. Somente o ser humano é que pratica um ato sexual por prazer, é algo instintivo, nós nascemos para reproduzir a espécie, então é natural que este desejo apareça quando estamos chegando perto da maturação sexual. Também é importante entender que abordar educação sexual não irá estimular a criança, a criança quando pergunta ela já está curiosa. E ainda na infância é perfeitamente normal sentir desejo, mas elas não sabem o que fazer ou lidar com isso se não for abordado e informado. OAJ - As brincadeiras entre crianças, brincar de médico ou papai e mamãe, como os pais podem abordar isso? Isso acontece porque é algo da curiosidade da crianças. Não deve ser reprimido, mas precisa ser explorado e os riscos alertados. Ao falar sobre sexualidade se esclarece pontos e também a criança começa a ter cuidado com o próprio corpo e com o corpo do outro, que aquele corpo não é para o meu prazer. Porque o outro também sente dor e que deve respeitar o corpo do outro, assim como gostaria que respeitasse o seu próprio. OAJ - Muitos pais e cuidadores ainda hoje não conversam sobre a primeira menstruação da menina? É um tabu, porque falar de sexualidade com os filhos é extremamente desconfortável. Isso acontece porque muitas mães e pais também não receberam informações a respeito. Hoje esses pais que não conseguem falar sobre sexualidade e primeira menstruação também não tiveram alguém que pudesse fazer esse processo para eles. Ou tiveram e foi algo muito traumático. Pensar nessa bagagem, de traumas anteriores, e quando fala-se sobre isso com os filhos, há o retorno de questões passadas. Então precisamos levar em consideração. Procurar um psicólogo, pediatra, um médico especialista em adolescente que podem ser profissionais para auxiliar nesse processo e passar nessas fases da forma mais tranquila possível. OAJ - Hoje a iniciação da prática sexual começa cada vez mais cedo, nesse sentido, como os pais podem alertar e informar sobre uma gravidez precoce ou até mesmo uma doença sexualmente transmissível. Os pais falarem com os filhos sobre sexualidade é um tabu, os pais têm medo que ao falar com os filhos sobre sexualidade estarão incitando os filhos a iniciarem uma vida sexual precoce. O que não é verdade, hoje em dia a vida sexual dos jovens começa cada vez mais cedo. Mas esse desejo sexual existe ha muito tempo, e não existe fórmula para isso que não seja a informação. Alertar nossos jovens, nossas crianças dos riscos que elas correm, não só os físicos como uma DST ou uma gravidez precoce, mas riscos psicológicos, uma criança gestando outra criança, isso é muito grave e a gente precisa falar sobre isso para que isso deixe de ser algo, de certa forma, secreto. E que seja algo que seja presente na sociedade, também por meio das políticas públicas. OAJ - Quais as diferenças da educação no passado para a educação que temos hoje? É difícil fazer esse parâmetro, os nossos pais receberam uma educação mais rígida, baseada com o respeito com o professor, os mais velhos e qualquer figura de autoridade e hoje essa rigidez afrouxou. O que eu penso ser benéfico em diversas situações, em outras a gente concorda que não, como o tiroteio em Suzano/SP (ocorrido na quarta-feira, dia 13 de março). Esse afrouxamento da rigidez da educação existe e não creio que seja ruim, o respeito antigamente era baseado no medo, porque as crianças teriam alguma punição caso não o fizessem. Hoje se fala em limites, que devem ser estabelecidos dentro de casa, que devem ser dados para que esses atos não aconteçam. OAJ - Como deve ser feita a educação sexual nas escolas? Nós temos agora um governo mais rígido se assemelhando à educação que nossos pais tiveram. A escola pode providenciar a educação sexual porque a primeira instituição que pertencemos é a nossa família, quando a família falha em nos passar essas informações, a escola se obriga a dar conta desse processo. Existem pais que não conseguem falar sobre sexualidade com seus filhos. Cabe a escola trazer essa informação, no cunho de produzir conhecimento, acerca de doenças sexualmente transmissíveis (DST), de aborto, riscos de uma gravidez precoce. Hoje a puberdade está acontecendo muito antes que antigamente, então é preciso abordar esse assunto da mais adequada possível. A escola deve providenciar uma fala com profissionais qualificados, que sejam adequados para falar sobre esse assunto. As cartilhas disponibilizadas (do adolescente) que contém essas informações foram elaboradas por profissionais adequados para falar sobre o tema. Que tem conhecimento técnico sobre, porque há essa demanda. Por exemplo, a ONU tem uma estatística que o Brasil detém 49% dos casos de HIV da América Latina e 35% dos infectados têm de 15 a 24 anos, porque não se tem informação acerca deste tema. Quanto mais a gente conhece sobre o assunto, mais responsabilidade nós temos sobre. Retirar imagens das cadernetas é um retrocesso, um pré-adolescente que vai enxergar uma vulva num manual não vai incitá-lo a procurar uma menina que tem uma igual. Porque isso já está dentro dele, estamos falando sobre puberdade, os hormônios estão à flor da pele. Informar como se coloca um preservativo no pênis não irá fazer com que esse adolescente vá correndo ter uma relação sexual. Ele vai aprender a se prevenir, essa cartilha tem o efeito de prevenção. A educação sexual não significa ensinar a manter uma relação sexual, mas sim informar a diferença do corpo do outro, o meu corpo, respeitar o corpo do outro, para quando houver a possibilidade de entrar em contato com esse outro, a gente possa saber se prevenir, para que os casos de HIV e outras DST’S parem de aumentar, é uma epidemia, e que precisa ser trabalhada como caso de saúde pública. OAJ - Qual recado final gostaria de deixar para esses pais? Os pais tenham paciência com seus filhos a adolescência e a puberdade são fases mais difíceis, e qualquer sinal de curiosidade, punir não é a saída, reprimir não é a saída. A nossa saída é a informação e o conhecimento de maneira adequada para que a gente consiga não reduzir, mas controlar o aumento de DSTs. A comunicação entre as famílias também é um papel principal, porque a nossa família é a primeira instituição, a escola vem para pincelar esses assuntos. Que sejamos pais suficientes para que nossos filhos não precisem aprender na escola assuntos que poderiam ser conversados e resolvidos dentro de casa. MARIA EDUARDA ROSSATO FACCO Psicóloga - CRP 07/25102 Psicóloga clínica, formada pela Universidade de Passo Fundo. Especialista em Psicologia da Criança e do Adolescente pela Unisinos, São Leopoldo. Atualmente atende nas cidades de Ibirubá e Passo Fundo. Telefone para contato: (55) 99131-6036

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