
A sequência de estiagens e enchentes no Rio Grande do Sul provocou uma crise sem precedentes no setor agrícola. O vice-presidente da Farsul, Elmar Konrad, aponta que os produtores estão no limite, sem acesso a crédito, seguros ou políticas efetivas de recuperação.
“Perdemos 50 milhões de toneladas de soja em poucos anos. Isso representa meio PIB do Rio Grande do Sul”, afirmou Elmar Konrad, vice-presidente da Farsul, em entrevista à Rádio Cidade e Jornal O Alto Jacuí. O número impressionante resume o impacto das quatro últimas safras prejudicadas por fatores climáticos e ausência de políticas de proteção ao produtor rural.
Segundo Konrad, a crise atual é resultado de uma combinação dramática: “A adversidade climática foi um fator, mas o seguro agrícola praticamente desapareceu, e os custos de produção explodiram. Em 2021/2022, por exemplo, os insumos subiram 45%, a safra quebrou 47% e o preço da soja caiu 44%. Nem com seguro a conta fechava.” A ausência de mitigadores como o Proagro e o recuo de seguradoras do Estado criaram um cenário de vulnerabilidade total. “Hoje, estamos sem seguro agrícola, com custo alto e queda brutal na produtividade”, disse Konrad. Em Ibirubá, por exemplo, a produtividade caiu de 45 para 30 sacas por hectare. A falta de segurança financeira gerou consequências graves: endividamento, limite de crédito esgotado e retração na economia. “As cooperativas, cerealistas e o comércio local também foram atingidos. Há cidades onde 40% das lavouras podem nem ser plantadas na próxima safra”, alerta o dirigente.
Para Konrad, sem ações emergenciais, como uma nova política de securitização e a reestruturação do seguro agrícola, o Rio Grande do Sul caminha para o colapso. “É uma bomba-relógio. E não é só o agro que sofre, mas toda a cadeia econômica: comércio, serviços e arrecadação pública.” A esperança, segundo ele, está na articulação política. “O governo do Estado teve um papel importante ao intervir com o Fundo de Reconstrução (Funrigs), garantindo recursos para prorrogar dívidas. Mas isso é paliativo. A solução é estrutural”, defende.
Konrad finaliza com um apelo: “O Brasil precisa aprender com seus próprios erros e com o exemplo internacional. Seguro agrícola real, compulsório e acessível é o mínimo para mantermos o produtor vivo — e com ele, toda a economia gaúcha.”