
O Rio Grande do Sul acumula um estoque de dívidas rurais que alcança R$ 72,8 bilhões, conforme levantamento da Farsul junto a instituições financeiras, com dados atualizados até março de 2025. Desse total, R$ 1,26 bilhão corresponde a valores vencidos e não pagos. A maior concentração de inadimplência está nos grandes produtores, classificados como “Demais”, com taxa de 2,9%, enquanto os agricultores familiares (Pronaf) apresentam índice de 0,8%. As dívidas com vencimento previsto ainda para 2025 somam R$ 27,72 bilhões.
As dívidas estão divididas entre renegociadas (R$ 22,28 bilhões) e não renegociadas (R$ 50,53 bilhões). A inadimplência média no conjunto de renegociadas é de 3,1%, número puxado pelos grandes produtores, que respondem por 79% dos R$ 684,6 milhões vencidos e não pagos nessa categoria. Já nas dívidas ainda não renegociadas, a inadimplência é menor (1,1%), mas o volume de compromissos é mais elevado, com destaque para os R$ 22,23 bilhões que vencem ainda em 2025.
O grupo dos "Demais Produtores" detém o maior montante total de dívida: R$ 32,04 bilhões, quase 44% do total. A inadimplência nesse segmento representa o maior risco do sistema: 4,5% nas dívidas renegociadas e 1,9% nas não renegociadas. Já o Pronaf, formado por pequenos agricultores, concentra R$ 24,36 bilhões em dívidas, com inadimplência geral de 0,8%, enquanto o Pronamp, voltado aos médios produtores, soma R$ 16,41 bilhões, com índice de 0,9%.
Em termos de finalidade, o endividamento está equilibrado entre custeio (R$ 36,75 bilhões) e investimento (R$ 36,07 bilhões). No entanto, a inadimplência é significativamente mais elevada no custeio: 4,9% nas dívidas renegociadas, frente a 1,2% nos investimentos. O mesmo padrão se repete nas dívidas não renegociadas, com inadimplência de 1,6% em custeio contra 0,7% em investimentos.
A maior pressão de curto prazo decorre da concentração dos vencimentos em 2025: dos R$ 27,72 bilhões com vencimento neste ano, R$ 22,32 bilhões são ligados a operações de custeio e R$ 5,41 bilhões a investimentos. Segundo a Farsul, o cenário de quebra de safra e liquidez reduzida exige atenção das instituições financeiras e medidas públicas específicas, como a securitização das dívidas — medida que agrupa débitos em um único contrato de longo prazo —, com prioridade para os produtores já inadimplentes ou em iminência de inadimplência.
Fonte: Nota Técnica – Análise do Estoque, Vencimento e Inadimplência das Dívidas dos Produtores Rurais do Rio Grande do Sul em março de 2025 (Farsul).